Pinto Madeira
O Cariri esteve – durante alguns anos do século XIX – dividido entre simpatizantes da ideologia republicana e adeptos da Monarquia. O confronto dessas idéias foi motivo de contendas as mais variadas.
Joaquim Pinto Madeira era o que poderíamos chamar de caudilho. Rico proprietário rural e chefe político da Vila de Jardim, era por índole um afeiçoado às coisas da Monarquia. Foi fundador da sociedade secreta “Trono do Altar”, que defendia a monarquia absoluta. Lutou ele, ativamente, contra os promotores dos movimentos libertário-republicanos da Revolução Pernambucana de 1817 e da Confederação do Equador de 1824.
Após a derrota da família Alencar, em 1817, coube a Pinto Madeira, à época ocupando o posto de Capitão de Ordenança, conduzir até a cidade de Icó os 20 malogrados presos políticos - do clã dos Alencar e alguns agregados a essa família - da sedição de Crato. Provavelmente, durante o percurso, esses prisioneiros sofreram humilhações por parte do caudilho. O que era esperado, face ao temperamento belicoso de Pinto Madeira.
Em 1831 o imperador Dom Pedro I abdicou do trono brasileiro e voltou para Portugal, onde tomou o nome de Dom Pedro IV. Os adversários de Pinto Madeira aproveitaram esse acontecimento para dele se vingar. Acuado, o caudilho, com a ajuda do vigário de Jardim, Padre Antônio Manuel de Sousa, armou cerca de dois mil homens, a maioria com rudimentares espingardas, e invadiu o Crato, em 1832, para dar caça aos seus inimigos liberais. Dizem que de tanto abençoar as espingardas dos jagunços e, na falta destas, dar bênçãos a cacetes (pequenos bastões de madeira) o Padre Antônio Manuel de Sousa ficou conhecido como "Padre Benze - Cacetes".
Pinto Madeira e o Vigário Manuel foram vitoriosos no Crato, mas logo começaram a sofrer reveses. Terminaram por se render ao General Pedro Labatut, um mercenário francês que atuava no Brasil, desde as lutas pela independência. Presos, ambos foram enviados para Recife e depois para o Maranhão. Pinto Madeira retornou preso ao Crato, em 1834, onde, num júri parcial – composto por antigos inimigos seus – foi condenado à forca, sentença posteriormente comutada para fuzilamento, em face de o réu ter alegado sua patente militar de Coronel.
“Morreu virilmente Pinto Madeira. Conta a tradição, ouvida por mim desde menino, que momentos antes do fuzilamento, ofereceu-lhe um lenço, para que vedasse os olhos, um dos seus mais implacáveis inimigos. Recusou o condenado a oferta (...) Durante anos a fio, fez-lhe promessas o rude povo do sertão, considerando-o um mártir, isto é um santo”. (Cfe. Irineu Pinheiro, na monografia: “Joaquim Pinto Madeira”, Imprensa Oficial do Ceará. Fortaleza, 1946, página 21).
Texto de Armando Lopes Rafael
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