Friday, March 26, 2010

O Crato é de todos - por José do Vale Pinheiro Feitosa


De volta ao Rio, sem a balança que penda o braço para aqui. Afinal a Praça da Sé, do Crato, era uma praça bucólica nos anos 50 e início dos anos 60. Na altura do centenário da cidade e muito tempo depois disso, era uma das praças mais bonitas do interior cearense. Assim como a Praça Francisco Sá e seus jardins trabalhados, com os pés de fícus esculpidos em imagens.

A questão não são as lentes: confesso vivo no Rio há 37 anos. Formei-me e sempre trabalhei aqui. Tive filhos e agora uma neta: todos cariocas. Isso não inibe a vontade de analisar o visual do Crato. Especialmente o Crato e sua decadência do centro da cidade, como a de Fortaleza, São Paulo e Rio às quais acompanhei de sobremaneira. Se alguém perguntar qual o projeto de Praça da Sé mais simpático, se aquele do Centenário ou do meado dos anos 60, com o prato luminoso a guisa (poderia ser “guiza” no sentido do regionalismo de Cabo Verde) de fonte, ficarei com o primeiro, mas aí são outros quinhentos. A sujeira da madrugada, com os copos descartáveis coalhando o piso imundo da praça, diz de muita coisa, menos de que Copacabana seja mais limpa. O é, mas convenhamos são outros quinhentos. E diga-se: de vez em quando se torna em igual sujeira, mas a limpeza é rápida. Fruto, a sujeira, do uso incorreto do espaço urbano.

Acontece, como bem lembra o Zé Nilton, que a cidade é da polis, que a cidade merece o poder público que lhe convém. Que um espaço coletivo é um espaço de disputa, de visões distintas de mundo, inclusive de abandono e má condução. É aí que a nossa vontade se mostra a mais correta e ou incorreta. A falta de saneamento básico, o lixo sobre o piso do espaço público, os buracos no caminho de quem se desloca, a falta de posturas municipais (ou comunitária), não fala de comparações, é absoluta, pois é ela em si. Mas se fosse discorrer sobre este assunto com um Engenheiro Sanitarista, primeiro o ouviria, pois muito mais teria a dizer-me do que eu a ele.

O centro do Crato pode ser infinitamente melhor do que é. Não é um espaço urbano a ser inventado, ele já o foi. Não é apenas um espaço cotidiano, ele é histórico e por isso é mandatário em seu futuro. Quem irá se esquecer da Casa dos Leões, dos azulejos da Miguel Lima Verde, do próprio Grande Hotel? Ora quem não tiver o que dizer sobre isso, não tem uma cidade em seu futuro e nem futuro na cidade.

Gostaria até de abrir um espaço de discussão aqui sobre a seguinte frase: “as cidades atuais, mesmo as mais modernas e recentes, são espaços de conservação e de desenvolvimento”. A discussão viria de outras visões do que sejam as cidades e este é um assunto especial, pois as cidades já representam para a América Latina a essência hodierna: de cada cinco pessoas, quatro moram nas cidades.

Finalmente um ponto na questão: o Poder Constituído Municipal. Ele é central, tanto aquele constituído pela Câmara dos Vereadores e sua Mesa Diretora, como aquele sob o poder popular representado: Prefeito Samuel Araripe.

Por: José do Vale Feitosa
Foto: Dihelson Mendonça

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