Seu Almir era um homem bom, só fazia o bem e nunca acreditou em Deus. Fazia uma exigência, metódico que era: quando morresse, que seu cortejo fúnebre desviasse pela rua de trás, evitando passar em frente à Igreja de Nossa Senhora da Penha. Fez até um mapa detalhando o roteiro a ser cumprido.
Estava tudo preparado para esse dia, por ele mesmo, desde a bandeira do Flamengo a ser colocada sobre o caixão até o discurso de despedida, por ele próprio redigido e que seria lido por Altamiro, seu amigo, aposentado do BB e flamenguista como ele.
Proibido estava que se fizesse qualquer oração, sequer um Pai-Nosso. Altamiro foi-se antes, coração atropelado por um enfarte desgovernado e sem freios.
Seu Almir morreu num domingo, na hora da missa das sete e seu sepultamento foi às quatro da tarde, quando se iniciava a novena em louvor à Virgem Maria.
A rua estava lotada de fiéis e seus amigos o acompanharam da Pedro II até o cemitério pela rua que fica por trás da Igreja. Se houve reza, foi baixinho e ninguém ouviu. Mais tarde, o Flamengo ganhou do Vasco por 1x0. Da arquibancada do céu ouviu-se um grito de gol embrulhado num manto rubro-negro.
Por Xico Bizerra
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