Autoridades do meio ambiente e da defesa Civil do Crato visitaram as obras do Canal do Rio Granjeiro. A área é motivo de preocupação, já que o trabalho não foi concluído - FOTOS: YAÇANÃ NEPUNUCENA.
Encostas de morros na cidade do Crato estão entre as áreas vulneráveis de desabamentos durante as chuvas. A estação das chuvas ainda não chegou, mas já é motivo de precaução para gestores do Município do Crato
Crato. Este ano, de acordo com o Corpo de Bombeiros, já foram registradas, neste Município, sete ocorrências de desabamentos de edificações e três deslizamentos de encostas. Em função da quadra invernosa que se aproxima, a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil está elaborando um documento para avaliar os perigos de desabamento e ou desmoronamento das áreas de risco do Município.
Devido ao uso impróprio dos terrenos, a encosta do Seminário, Alto da Penha e Bairro Batateiras são os locais onde há maior probabilidade de grandes volumes de rochas se deslocarem e provocarem danos à população. Mas, a principal preocupação das autoridades e da população está relacionada às obras de reconstrução do cenário de desastre do canal do Rio Granjeiro.
O secretário municipal de Meio Ambiente, Nivaldo Soares, acompanhado de integrantes da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil, fez uma visita ao canal, onde, segundo ele, foram diagnosticados várias inadequações.
Para Nivaldo, as bases de sustentação dos gabiões (blocos de pedra protegidos por telas de aço) não estão a contento. "Se acontecer o desabamento dos gabiões, a água vai passar pelas ruas, com possibilidade de provocar desmoronamentos de casas e prédios e, acima de tudo, danos à população. Queremos assegurar que a população não venha a sofrer com um segundo desastre", diz ele.
Mas, segundo o Departamento Estadual de Rodovias (DER), toda a obra está de acordo com as normas técnicas da engenharia. A comissão da Defesa Civil municipal irá elaborar um relatório constando o quadro em que se encontra as obras do canal e suas inadequações. O documento será entregue às autoridades competentes, no intuito de que sejam tomadas providências que evitem novos desastres na área.
Ao todo, nos Municípios do Estado, há 207 áreas vulneráveis, onde podem ocorrer desastres, sendo que 91 delas estão em bairros de Fortaleza. Como medida preventiva, a Defesa Civil do Estado do Ceará está realizando um Plano Contingencial que se inicia com encontros regionais que irão acontecer a partir do mês de dezembro. As coordenadorias municipais no Sul e Norte do Estado irão receber orientações sobre o Plano Contingenciado dos Municípios.
Motivos naturais
A topografia irregular e a condição geográfica do Crato são os motivos naturais dos deslizamentos das terras e desmoronamentos das encostas.
A ocupação indevida e o desnível entre as partes alta e baixa da Bacia do Rio Salgado é outro ponto a ser levado em consideração, para que se entenda a dimensão que as inundações podem causar na área urbanizada da cidade, em casos de chuvas de grandes proporções.
De acordo com a analista da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), Clairianne Viana, o trabalho preventivo deve ser feito de forma conjunta, respeitando a legislação municipal. "É importante que os munícipes façam a captação das águas da chuvas, que o Município reserve uma área verde nas cabeceiras do Rio Salgado e respeitem as Áreas de Proteção Ambiental e de Proteção Permanente. Com isso, a quantidade de água que chega no canal vai diminuir e os riscos de inundações também", afirma.
Com relação às outras áreas de risco, a Secretaria das Cidades, em parceria com o Banco Mundial de Desenvolvimento, elaborou um projeto de revitalização da encosta do Seminário, por meio do programa Cidades do Ceará Cariri Central, que executa ações nos Município. A medida contempla a drenagem das águas pluviais e de esgotos, controle de encostas, entre outras. Mas, até agora, além de visitas técnicas, nada foi feito.
Controle urbano
Apesar de haver um Plano Local de Habitação de Interesse Social, o controle urbano é uma das deficiências do Município. Ainda existem várias famílias residindo em casas de taipa, o que também pode representar um risco em casos de enxurradas. De acordo com o Corpo de Bombeiros, nos últimos anos, a encosta do Seminário foi a área de maior ocorrência de deslizamentos e remoção de famílias, ao todo foram cinco.
Segundo levantamentos feitos pelo Banco do Nordeste, em janeiro deste ano, a enchente, que provocou a destruição parcial do canal do Rio Granjeiro, deixou prejuízos financeiros na ordem de R$ 600 milhões.
Fique por dentro
Inundações
Áreas de risco são espaços territoriais expostos a desastres naturais, como desabamentos e inundações, onde não é recomendada a construção de casas. As principais áreas de risco são aquelas sob encostas de morros inclinados ou à beira de rios. A previsão e prevenção dos desastres podem ser feitas por meio do mapeamento das áreas de risco, de campanhas educativas para alertar as comunidades, desassoreamento dos rios, preservação das matas ciliares, limpeza de esgotos e bueiros e contenção de barrancos. A Defesa Civil é a principal instituição responsável pelo monitoramento destas áreas. Chuvas intensas podem provocar os escorregamentos, desabamento de residências e morte dos moradores de áreas submetidas ao risco.
MAIS INFORMAÇÕES
Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Ceará - Rua Oto de Alencar, 215, Centro, Fortaleza (CE)
Fone: (85) 3101.4571 e Fax 3101.4582
CONTROLE MUNICIPAL
Licitação para compra de materiais
A Defesa Civil do Estado informa que está em fase de licitação a aquisição de materiais preventivos, como colchões, cobertores e alimentos. Porém, cada cidade precisa adquirir os equipamentos para uso em caso de desastres em suas regiões. A Coordenadoria Estadual já recomendou que cada unidade municipal inicie os levantamentos das áreas de risco. A prevenção dos desabamentos e deslizamentos é continuada. Porém, a Defesa Civil pede que as coordenadorias colaborem realizando visitas técnicas à cada área onde há perigo. Segundo o secretário executivo da Defesa Civil do Estado, coronel Leandro Silva, é importante observar os riscos de desabamentos de encostas, principalmente, em períodos de chuva.
Em contrapartida, a Coordenadoria da Defesa Civil do Crato, mesmo tendo um amplo potencial de cobertura e salvamento, ainda tenta se adequar ao que é proposto pelo Sistema Nacional de Defesa Civil. Falta o Município dispor de um Plano Emergencial de Atuação e de um maior engajamento das entidades envolvidas.
O plano, que já está sendo elaborado, prevê as zonas da cidade onde podem ocorrer desastres, as instituições hospitalares que irão atender todas as famílias acometidas por sinistro, vias de acesso e de evacuação, além de estabelecer os espaços para abrigos temporários. Como medida de fortalecimento do órgão, que atua em parceria com o Corpo de Bombeiros, a coordenadoria irá promover uma reestruturação da Comissão de Defesa Civil para ampliar o número de participantes que atualmente são apenas nove.
Para o secretário executivo da Comissão Municipal de Defesa Civil, Wildevânio Vieira, as ações em sinistros podem ser completadas. Ele afirma que é necessário que seja realizado um estudo sobre o perfil do solo. "Quando a gente conhece o perfil do solo, temos como implantar ações de replantio e construção de obras de engenharia nos locais vulneráveis", revela.
Yaçanã Neponucena
Repórter do Jornal Diário do Nordeste
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