Saturday, January 2, 2010

Em 2010, vamos dar continuidade ao miserê de sempre - Por André Forastieri

Em 2010, vamos eleger um novo presidente. Muito papo vai correr sobre as conquistas do mandato de Lula. Como Dilma vai dar continuidade. Como Serra vai avançar ainda mais.

É exatamente a hora de baixar a bolinha dos marketeiros. E deixar dolorosamente claro o seguinte: o Brasil continua – e continuará – sendo um país de merda.

É um país cada vez mais rico. Com um povo que continua muito, muito, muito pobre.

Tanto se falou sobre a entrada de 20 milhões de brasileiros na classe C, vindos das classes D e E. Hei, eu sou o último cara a reclamar do Bolsa Família e cia.

Mas, na boa, é um pinguinho d’água no oceano. Os números falam mais alto que qualquer propaganda política. A famosa classe média – de que todo mundo acha que faz parte – tem fronteiras bem delimitadas nas pesquisas.

Trata-se de gente que tem nível de renda entre R$ 1.752.00 (classe C1, o alto da C) e R$ 2.326,00 (classe B2). São 31% dos domicílios. A classe A, a elite do país, representa 3% da população. Esses são os ricaços?

Não. Pelo critério de classificação socioeconômica atual, qualquer um que possui renda superior a R$ 3.267,00 pertence à classe A. E o topo da pirâmide?

É a classe A1, com renda pessoal acima de R$ 4.427,00. Um pouco mais de três mil, e você está na classe A. Quer dizer: 97% dos trabalhadores brasileiros ganham abaixo de três paus e pouco!

E toca pagar imposto alto em tudo, e mais médico, dentista, escola, vigia da rua…

Sei que o Brasil enfrentou a crise melhor que outros países. E que tem pré-sal, copa, olimpíada, mulher gostosa e o escambau. Mas vamos diminuir o tom triunfalista, que tá dando engulhos.

O Brasil não é pobre: é pior que pobre. É um pai rico e injusto com seus filhos. O Brasil dá tudo para zero, vírgula zero nada dos brasileiros. E uma banana para a maioria.

Estamos avançando? Estamos.

Mas se continuarmos avançando na mesma velocidade dos últimos oito (ou 16?) anos, o Brasil só será um país justo lá pelo século 25.

Infelizmente, em 2010 vamos eleger um cara – ou uma mulher – que vai manter a coisa na mesma toada. É cruel. Mas é a real.
Fonte: Blog de André Forastieri

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