Friday, June 15, 2012

Sobre o ideal da fama como finalidade, e não como consequência


A FAMA FÁCIL QUE NÃO DURA - Luíza do Canadá, Família "Para nossa alegria", BBB...

Ei, você que lê esse texto! Me diz uma coisa: por acaso você sabe por onde anda a família "Para Nossa Alegria"? Ou a Luiza, aquela que "foi pro Canadá" mas voltou pra ganhar um dinheiro fácil depois que o pai falou, distraidamente, que ela andava por lá? Mais ainda, você sabe onde está a Sthefany Cross Fox, a menina feiosa que fez o vídeo caseiro namorando um carro e que virou sensação momentânea da internet?

Sim, meus amigos!! ESSAS PESSOAS SUMIRAM!! Acabou! O legado de horrores dessas celebridades efêmeras passou. E é isso que sempre acontece com emergentes de internet e toda e qualquer pessoa alçada à condição de estrela por conta de um viral, um relacionamento oportuno, uma brincadeira compartilhada por milhares de espectadores ou qualquer outra forma de aparecer sem conteúdo algum. Some! Oba!

Claro, esses personagens bizarros que citei no primeiro parágrafo continuam lutando por mais alguma fama e aquele espaço do passado. A família "Para Nossa Alegria" teve um sopro de vida adicional graças à generosidade do pessoal do Pânico na Band, pois ninguém mais falava deles. Que eu saiba, eles tentaram um novo vídeo engraçadinho. Mas ficou uma bela duma merda, pois fizeram algo produzido, fake e sem a espontaneidade que os consagrou. A "Luiza do Canadá" passou a vender produtos de uma rede conhecida, que tem o mesmo nome, mas sumiu. E a Sthefany Cross Fox deve estar por aí, brigando por mais cinco minutos de fama. Que, convenhamos, nunca mais virão.

A fama tem essas coisas tentadoras. Sempre digo que, por conta de um gigantesco e inadmissível erro de formação moral desse país, nós temos dois tipos de Brasil: o das pessoas comuns e o das pessoas famosas. O primeiro tipo enquadra a grande maioria da população. É a turma raçuda, guerreira, que mata um leão por dia e "namora" o segundo tipo - a galera que parece ter as portas abertas a todo instante, o passe-livre para festas, presentes, mimos, orgias e regalias mil. Óbvio que não é nada disso, mas a glamourização da fama e a "romantização" do ideal de ser famoso faz com que muita gente acredite nessa ilusão — e passe a brigar para ser, apenas, alguém famoso.

Houve um tempo em que o ideal de um jovem era "ser doutor". Não peguei essa fase. Faz tempo... quem nos conta isso são os livros do Machado de Assis, alguns sambas mais antigos e os nossos avós. Paulinho da Viola, em sua música "14 anos", fala que o pai lhe chamou para perguntar-lhe o que queria estudar: Filosofia, Medicina ou Engenharia? "Tinha eu que ser doutor/ mas a minha aspiração/ era ter um violão/ para me tornar sambista". Acho que o Paulinho da Viola nem imaginava que hoje os pais perguntam mais se o filho não prefere ser artista porque dá mais dinheiro que ser doutor!

Depois, e essa fase eu peguei, o lance de um jovem era vislumbrar a carreira de Jogador de Futebol. Na minha infância, só se falava de futebol. O Pelé tava saindo de cena como um herói nacional, outros arrasavam em campo e os artistas de música e TV não tinham o mesmo potencial que os mestres das bola. Claro que hoje muita gente ainda quer ser jogador de Futebol, até porque hoje sim se ganham riiiiiiios de dinheiro com a bola... mas na minha infância o sonho dourado de profissão rentável era mais ligado ao Esporte do que ao Show-Business.

E agora estamos aqui. Nos nossos dias atuais, com tudo que se imagina e deturpa da vida dos famosos, o melhor negócio do mundo parece ser esse, sim. Ser famoso. Há essa idealização absurda da vida pública, e isso é alimentado por uma indústria bizarra. Programas como o BBB enaltecem a vocação da fama como finalidade, não como consequência de um trabalho e de uma obra, como sempre deveria ser. Um jovem quer muito mais ingressar na casa do BBB do que fazer uma faculdade decente, pois na "casa mais vigiada do Brasil" ele pode sair com 1,5 milhão, bem como o passaporte para festas onde vai ganhar para sorrir e sumir, uma pá de gostosas e sei-lá-o-quê-mais de coisas.

Os tempos podem ser outros e envergonhar os nossos avós... Mas a regra ainda é clara: muda o tempo, muda o mundo, mas se você não tem nada a dizer com o seu trabalho, você vai cair. Se você quer acontecer porque tem uma boa bunda, fez UMA piada engraçada, um vídeo bacanudo, teve UM relacionamento oportuno e midiático, UMA única oportunidade de aparecer mas não trouxe um pingo de conteúdo, você vai se contentar apenas com os cinco minutos de fama que terá.

O mundo ainda é justo nesse sentido: quem não tem nada a dizer ou não sabe transformar positivamente o mundo à sua volta com a oportunidade que ganhou, rapidamente vai ser substituído por quem saiba. Ou, o que ainda é ruim, por alguém mais safado que vai tentar fazer isso em condição de mais nova sub-celebridade. Eis que surgirão novas "Sthefany's Cross Fox" novas famílias "Para Nossa Alegria" e novas "Luizas do Canadá". Triste.

Mas o bom é que esses novos engodos midiáticos também passarão. Portanto, brinde antecipadamente o fim da dupla que quer o "Tchú e quer o Tchá" e já tome um porre pelo nascimento da outra que vai cantar uma versão qualquer no estilo "Minha rolinha quer comer sua aranha". E por aí vai...

Por Rafael Cortez

No comments:

Post a Comment