Thursday, February 24, 2011

INDIOS CARIRIS - Por Edilma Rocha


Se fala tanto em "Cariri" e pouco se escreve sobre estes nossos antepassados por falta, talvez, de mais dados da história dos "Índios Cariris", bem antes da ocupação Portuguesa no Brasil. Sabemos muito pouco sobre este território do "Vale do Cariri" que se estende da base da Chapada do Araripe. Mesmo a partir dos fósseis de peixes, animais petrificados, ossadas do "Mastodonte", são para nós como enigmas difíceis de decifrar.

Originários da Ásia, chegaram ao novo mundo pelos rios Amazonas e Tocantins. Dois tipos étnicos chegaram a América no período neolítico, os Sudésticos e os Brasílicos, a procura de um lugar que lhes dessem condição de sobrevivencia. Alguns prosseguiram migração e outros foram detidos pelas águas caldas do Rio São Francisco e se assentaram nesta vasta região do Cariri. Uma das tribos foi a Nação Cariri que chegou ao Sul do Ceará nos séculos IX e X da era cristã em busca de terras férteis, húmidas, quentes e de fácil plantio. Encontraram no Cariri, mais precisamente no Crato o ambiente ideal para melhores condições de vida, com suas fontes e riquezas naturais. A região oferecia uma vida fácil e primitiva retirando da natureza em abundância uma diversidade de alimentos, como, a macaúba, o babaçú, o piqui, o araçá, dentre outros. Plantaram a mandioca, o milho e a caça e a pesca farta nas matas, fazia do ambiente um verdadeiro paraíso tropical, onde seus familiares poderiam viver em paz durante muito tempo. Suas casas eram construídas com palha de palmeiras, usavam utensílios como a cabaça, cuia e coités. Construíram o pilão de socar, a urupemba, o abano, esteira e artigos feitos de barro, como, vasos, pratos, panelas, onde faziam a comida proveniente da farinha de mandioca e do milho. O beijú, a tapioca, a puba, a canjica, o cuscus e muitos outras iguarias que hoje saboreamos, vieram dos nossos antepassados indígenas.

Os Cariris foram Nações Indígenas como muitas outras que povoaram o nosso Brasil, mas tinham uma particularidade, eram dóceis e de fácil obediência e o seu aldeamento era feito sem nenhum custo logo que a voz evangélica se chegou até eles. Os "Cariús" habitavam ao Norte do Araripe, os "Calabaças" habitavam as margens do rio Salgado e os "Inhamuns" eram inimigos e viviam em guerras constantes e sempre se mantinham em ocupações ordinárias. O descobrimento da data exata de ocupação dos Índios Cariris ainda é uma indagação. Sabe-se que foram descobertos por aventureiros baianos que partiram do São Francisco por volta de 1660 à 1680, antes do Governo de Sebastião de Sá, no Ceará.

Um "Negro" escravo, da Fazenda Várzea, além do rio São Francisco, do Senhor da Torre, caiu em poder dos Índios Cariris, novo ainda, e ao longo do tempo se tornou um forte Capitão dessa tribo. O "Negro" aconselhou os índios a recorrer o auxílio dos brancos mediante a descoberta do País. Foi este escravo que ensinou aos Portugueses o caminho da aldeia dos Cariris por entre as selvas e ribeiras. Estas foram as notícias deixadas por pessoas que viveram na última metade do século passado como o Coronel Leandro Bezerra Monteiro. Os principais invasores vindo do rio São Francisco eram descendentes de Diogo Alves Correia, "O Caramurú", como os índios o chamavam, que socorreu os Cariris contra os Cariús. Sendo difícil dizer quem foi o chefe da primeira batalha, talvez João Correia Arnaud ou Medrado, vaqueiro e procurador da Fazenda Várzea.

Em 1590, com a ajuda de 200 homens, o "Negro" e 5 Índios Cariris, chegaram na cachoeira de Missão Velha e dominaram do rio Salgado até o Icó. Em 1610, veio o Coronel João Mendes Lobato e um filho padre, António Mendes Lobato com cerca de 100 homens identificados com os índios da tribo Calabaça conseguindo que recebessem o Batismo e estabelecendo relações com os Cariris. O padre Lobato enviou uma comissão ao Bispo de Pernambuco, Dr. Estevão Brioso, para pedir um missionário para a aldeia e este enviou do Convento da Penha, Frei Carlos de ferrara, que abriu as missões: Missão Velha, Missão Nova e Miranda, onde posteriormente passou a Crato. A vinda de Frei Carlos de Ferrara se deu em 1678 até 1683. No vale do Cariri não havia uma grande população, uns raros brancos além das aldeas de Missão Velha, Missão Nova e Miranda. Existiam fazendas de gado com alguns colonos estabelecidos. Alguns frades Capuchos vieram do Pernambuco logo depois do descobrimento seguidos de chefes e essas nascentes populares catequizaram os índios em Missão Velha depois em Miranda, sítio onde o riacho desse nome faz barra na corrente da Batateira e ali se fizeram aldeamento. Os Índios Cariris vieram se estabelecer um pouco abaixo e adiante atravessando o rio das Piabas, lugar em que hoje está a cidade do Crato. A primeira aldeia foi exatamente onde se encontra a igreja matriz da Penha, muito tempo conhecida como Miranda.

Ali homens e mulheres trabalhavam por tarefas sob as ordens de um feitor índio e um diretor branco. Havia ordem da Corte Portuguesa de 1764, que ninguém podia sair da aldea sem permissão. Eram subordinados pelo Senado da Câmara do Icó. Os trabalhos procediam da seguinte maneira: Um índio de 15 à 60 anos ganhava um salário de 4$800 rs e os de12 à 18 anos, 3$00 rs, obrigados por um amo que tinha a obrigação de lhes dar de comer, beber, vestir, cura-los das moléstias, ensinar-lhes a doutrina cristã e a se fazerem confessar 5 vezes por ano. No entanto, o índio que aprendesse uma profissão, trabalharia 6 anos para o mestre e depois passaria a ganhar 100 rs diários. As mulheres trabalhavam nos afazeres das casas e tinham que obedecer aos casamentos arranjados.

E assim aconteceram os abusos, explorações, violências e aos poucos foram reduzidos a escravos dos locatários. Esta foi a vida a que se tem conhecimento dos verdadeiros e exclusivos senhores do Brasil, os Índios Cariris.

Edilma Rocha

Fonte : Ceará Homens e Fatos - Por João Brígido

No comments:

Post a Comment