FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A FLORESTA (PE)
As obras estão atrasadas e paradas em vários trechos, mas sertanejos que tiveram propriedades cortadas pelos canais da transposição do rio São Francisco querem saber como chegarão ao outro lado de suas terras quando a água começar a correr. A preocupação dos moradores é que eles sejam obrigados a andar quilômetros na caatinga para chegar à parte isolada de suas propriedades. O clima é de apreensão, pois a maioria não tem carro e carrega nos braços ou em carroças a lenha para os seus fogões e a vegetação nativa usada como ração.
A Folha percorreu o canal da transposição em Floresta (a 435 km de Recife), onde muitos sertanejos tiveram as propriedades divididas. O agricultor Manoel Menezes Filho, 75, conta que perdeu 40 cabeças de bode após ter sua fazenda de 352 hectares cortada pela obra. Ele disse que usava os 44 hectares que ficaram do outro lado do canal para criar animais, mas que foi obrigado a recolhê-los após os bodes começarem a sumir. "Perdi o controle porque eles ficaram soltos, sem ninguém por perto", afirmou. "Os animais não estavam acostumados e sumiram."
O agricultor trouxe a criação para perto de casa, mas o açude para os bichos está do outro lado do canal. Ele usa um aterro para atravessar, mas sabe que terá de retirá-lo para a água passar. "Quando a obra começou, eu achava que era uma coisa boa, mas agora fico desconfiado porque passa ano e isso não sai do lugar", disse.
GALPÕES SAQUEADOS
Iniciada em 2007, com previsão de conclusão para 2012, a transposição de parte das águas do rio São Francisco está com 43% das obras concluídas. Vários trechos estão abandonados, e a expectativa, agora, é que os trabalhos somente terminem em 2015. Em Floresta, galpões foram saqueados e estão sem portas e janelas. Há montanhas de brita abandonadas. A erosão corrói paredes de terra desprotegidas do canal. Plantas crescem dentro dele, contrastando com o cinza que predomina na caatinga.
"Não sei se isso vai trazer água ou não algum dia porque até agora só trouxe dúvida", disse o agricultor Joaquim Cordeiro de Sá, 78. Ele também teve sua propriedade de 53 hectares dividida pela obra e agora espera que uma passagem seja construída perto da sua casa. "Eu tiro lenha e macambira [planta nativa] para os animais do outro lado e só tenho carro de boi para chegar lá." Os 713 quilômetros dos eixos leste e norte da transposição passam por 1.803 propriedades em Pernambuco, na Paraíba, no Ceará e no Rio Grande do Norte.
O Ministério da Integração Nacional não informou quantas delas foram divididas, mas, de acordo com o órgão, passagens sobre o canal serão feitas, em média, a cada 2 km. A localização, informou, foi acertada em reuniões com as comunidades. Ainda segundo o ministério, dos 16 lotes da obra, 7 estão em atividade e empregam 4.100 pessoas. Os trechos parados, informou, estão em processo de licitação.
(Postado por Armando Rafael)
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