Friday, November 23, 2012

CRATO - Cordel ambiental pode ser utilizado em sala de aula


Dois cordelistas, um do Crato e outro de Tauá, se uniram para escrever os versos que promovem o amor à natureza

Crato. "Fiquemos todos alerta ao que está acontecendo. Nosso planeta morrendo, sangrando em veias abertas. Nossas chances são incertas, talvez, já não haja cura. A realidade é dura e pode ser fatal". É assim que os cordelistas Paulo Ernesto e Paulo de Tarso chamam a atenção da população para as questões do aquecimento global e sobre a destruição da natureza.

Paulo Ernesto Arrais e Paulo de Tarso utilizaram uma linguagem simples e direta para conscientizar sobre o perigo global diante da degradação do meio ambiente. Juntos e através da internet, eles escreveram um cordel sobre o tema, que atualmente preocupa as autoridades ambientais e é amplamente discutido em todo o mundo. A preocupação fez com que os dois escritores buscassem alternativas para tentar conscientizar crianças, jovens e adultos a respeito da emissão de gazes poluentes e quanto aos reflexos da ação do homem com relação a natureza.

Lançado recentemente na X Bienal Internacional do Livro do Ceará, que aconteceu em Fortaleza, o cordel "O aquecimento global tá destruindo a natureza" já está à disposição das autoridades do poder público regional para ser incorporado como ferramenta didática e objeto de estudo nas escolas da rede pública de ensino. Até agora, uma instituição particular do Crato já demonstrou interesse em adotar o folheto como material educativo em suas salas de aula. Diante da simples e direta linguagem dos versos e da relação da temática com os nordestinos, que atualmente vivenciam uma das piores secas dos últimos 50 anos, a expectativa é que haja uma forte compreensão do cordel, que relembra grandes tragédias ambientais ocorridas. Para os escritores, o tema tem grande relevância. O cordel "O aquecimento global tá destruindo da natureza" mostra que as ações por parte da humanidade em busca do controle da situação são valiosas e sem elas, o planeta está exposto a um colapso ambiental. O folheto repassa uma mensagem que deverá ser refletida nas próximas gerações, que podem pagar um preço alto pelos danos causados à natureza, além de tentar incentivar as boas práticas de conservação do meio ambiente.

"A região Nordeste tem uma ligação muito forte com a poesia e, principalmente, com o cordel, por ser uma arte genuinamente sertaneja. Assim, a gente espera criar uma identificação com o público e passar a nossa mensagem que acredito ser válida", disse Paulo Ernesto. Elaborado na Academia dos Cordelistas do Crato, instituição com 21 anos de atuação e que, mesmo diante da modernização das tecnologias da comunicação, ainda utiliza o processo gráfico antigo, através da tipografia e xilogravura, o cordel está sendo apresentado aos futuros gestores públicos municipais, para que eles analisem a proposta de tratar do assunto nas escolas. A expectativa é que, a partir do próximo ano, todos os estudantes tenham acesso às informações contidas no folheto. Para simplificar o processo de adesão, os escritores Paulo Ernesto e Paulo de Tarso dispensaram todo e qualquer tipo de remuneração ou lucro sobre a autoria. Eles fazem apenas Uma exigência: que seja paga a impressão dos cordéis, trabalho feito na Academia dos Cordelistas.

"O aquecimento global tá destruindo a natureza" foi escrito à distância pelos dois cordelistas, estando um no Crato e outro em Tauá, no intuito de promover a visibilidade da literatura de cordel e divulgar a arte. Ainda em 2006, os poetas participaram de um festival de versos que estava sendo realizado em nível nacional. O tema ganhou notoriedade e o título foi votado e selecionado como o segundo melhor entre os concorrentes, dentro de uma das etapas do julgamento.

Elemento cultural

Atualmente, a maioria dos cordelistas escreve de forma simples e autêntica, mas com conhecimento de causa. A arte é analisada como elemento cultural. Os temas mais abordados pelos autores são a política, ética, religião e críticas sociais a sistemas públicos, além de biografias e criação de histórias cômicas. No Cariri, empossados na Academia de Cordelistas do Crato existem 20 sócios. Mas, o número de poetas escritores chega a ser superior a 200, em estimativa extraoficial. Anualmente, a média de produção é de 100 títulos. No Crato, a tradição do cordel está relacionada à figura de Elói Teles Morais, que durante 35 anos manteve um programa diário de poesia popular. Na década de 80, foi profetizada a morte do cordel, mas, devido à iniciativa dos poetas, a literatura permanece mais viva e atuante do que antes. Hoje, há projetos de incentivo à cultura regional que contemplam a arte.

Mais informações:

Academia de Cordelistas do Crato
Praça Cel. Filemon Teles, S/N
Município do Crato
Região do Cariri
Telefone: (88) 3523.3947

YAÇANÃ NEPONUCENA
Repórter do DN

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