Thursday, November 29, 2012

Cariri é projeto piloto para pesquisa sociocultural


Fundação Joaquim Nabuco realiza projeto na Região Nordeste para provocar reflexões sobre últimas mudanças

Crato. Para compreender a vida social na Região Nordeste e apresentar sua identidade e as evoluções vivenciadas nos últimos anos, a Fundação Joaquim Nabuco deu início a um projeto que vai percorrer os nove Estados da região. O "Nordestes Emergentes", como foi intitulado, visa identificar os fenômenos coletivos que sinalizam para o caminho da transformação social. Devido reunir uma série mudanças dos elementos e circunstâncias econômicas e sociais, além de concentrar uma multiplicidade cultural ampla, o Cariri cearense foi escolhido como campo para o estudo experimental da pesquisa piloto, que vai balizar as demais.

Nas ruas de Juazeiro do Norte, o tradicional e o moderno se misturam. Veículos automotores e de tração animal dividem mesmo espaço, sob as bênçãos do Padre Cícero na placa publicitária FOTO: MILTON GURAN - A iniciativa poderá servir de laboratório para a identificação da emergência dos novos Nordestes contidos na cultura tradicional, mas que vão se reinventando através do diálogo com a modernidade global.

Fenômenos sociais
A primeira etapa da pesquisa deverá durar até junho de 2013. Até lá, serão trabalhados dez fenômenos sociais em todos os Estados, entre eles, uma análise sobre a cultura da soja e as transformações sociais provocadas por ela, a uniformização urbana que está ocorrendo nas capitais, as novas formas de negócios e de comunicação e a descentralização econômica do Nordeste. Segundo os estudiosos, a região está vivenciando uma integração da produção da economia global, possível através das atuais formas de circulação das informações. Inicialmente, serão dez equipes de campo, envolvendo fotógrafos e pesquisadores, além da coordenação, que ficou a cargo do renomado antropólogo e também fotógrafo Milton Guran. Ele já ganhou diversos prêmios como o Pierre Verger, da Associação Brasileira de Antropologia e é membro do Comitê Científico Internacional do Projeto Rota do Escravo, da Unesco e da diretoria executiva da Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil (RPCFB). Neste ano, recebeu a Ordem do Mérito Cultural.Para Guran, esse é um dos projetos mais ambiciosos realizados nos últimos tempos, nas áreas da antropologia visual e da documentação fotográfica.

"Pessoalmente, participar da coordenação do Nordestes Emergentes é uma realização profissional, na medida em que mobiliza toda a minha experiência como fotojornalista, editor e antropólogo", conta. A expectativa é que o Nordestes Emergentes consiga elaborar resultados conversíveis ao bem-estar da sociedade. Com a proposta, a Fundação Joaquim Nabuco irá reunir um arquivo de dados sobre a vida social do Nordeste e com isso, espera contribuir para uma reflexão mais aprofundada sobre a realidade local. O projeto está imerso na interdisciplinaridade entre a antropologia, a história oral, a museologia, a documentação e ainda a fotografia.

A metodologia adotada é a descrição visual densa, que alia a fotografia documentária à identificação dos objetos a serem catalogados. Esta abordagem tem como objetivo revelar não somente os aspectos mais evidentes, como também aqueles que, na maioria das vezes, não estão explícitos, mas que são responsáveis pela constituição deste fenômeno de crescimento. De acordo com a antropóloga Siema Mello, na atualidade, as revoluções sociais são espontâneas. "Este tipo de revolução acontece sem a interferência do Estado. Elas são tão importantes que os Estados são forçados a incorporar as conquistas diretas e indiretas provocadas. A gente tem a impressão que está na iminência de um movimento deste tipo atualmente", afirma. O final da primeira etapa do estudo culminará em uma exposição sobre o que foi encontrado no novo Nordeste emergente. A mostra, que deverá trazer imagens fotográficas e objetos de cada um dos Estados visitados, acontecerá no Museu do Homem do Nordeste, na capital pernambucana.

DN



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