* Magali
* Carlos Eduardo
Quando temos nossos pais vivos e todos irmãos com saúde, jamais imaginamos que a doença ou a morte se abaterá sobre alguns de nossos entes queridos, ainda mais na flor da idade. Só pensamos que ela ocorrerá quando todos estiverem velhinhos. Além do mais, acreditamos que tudo só acontece com a família dos outros. Mesmo sem estarmos preparados, Deus está do nosso lado para nos dar a força e a coragem de enfrentarmos uma grande dor que, é ter um irmão e uma irmã acometidos de uma doença grave e partirem com uma diferença de 14 dias. A fé em Deus e a solidariedade dos amigos muito nos confortaram.
* Carlos Eduardo
Quando temos nossos pais vivos e todos irmãos com saúde, jamais imaginamos que a doença ou a morte se abaterá sobre alguns de nossos entes queridos, ainda mais na flor da idade. Só pensamos que ela ocorrerá quando todos estiverem velhinhos. Além do mais, acreditamos que tudo só acontece com a família dos outros. Mesmo sem estarmos preparados, Deus está do nosso lado para nos dar a força e a coragem de enfrentarmos uma grande dor que, é ter um irmão e uma irmã acometidos de uma doença grave e partirem com uma diferença de 14 dias. A fé em Deus e a solidariedade dos amigos muito nos confortaram.
Tendo convivido com Emília por mais de um ano, desde que ela veio em novembro de 2009 iniciar o tratamento aqui em Fortaleza, hospedando-se em nossa casa, eu e Carlos resolvemos através desse depoimento, fazermos uma homenagem a grande mulher que foi Emília. Com certeza, tanto eu, quanto Carlos aprendemos com ela e nos tornamos melhores como pessoa humana. Também crescemos na fé, graças ao testemunho de Emília. Ela queria muito ficar curada, pois desejava ver todos os filhos formados. Participou da formatura de André, o mais velho, que colou grau em Letras na URCA, recentemente. Faltou as duas filhas mais novas. Aceitou todo o tratamento, por mais doloroso que fosse, com muita resignação, sem nunca reclamar de nada. Preocupava-se achando que estava dando trabalho a mim e a Carlos. Eu respondia que, ao contrário, aquela era uma oportunidade que Deus estava nos dando para cumprirmos nossa missão de cristãos: "servir ao nosso próximo". E eu acrescentava que, ela era o nosso "próximo mais próximo".
Como eu sou onze anos mais velha do que ela, pois sou a terceira filha de uma família de oito irmãos, sendo ela a sétima, sempre me dizia que, eu estava substituindo mamãe que já tinha falecido e que, Carlos estava fazendo o papel de pai. Isso me fazia muito bem, já que era uma prova de que ela estava se sentindo à vontade e em paz em nossa casa.
Emilia era linda na aparência externa e mais bela ainda em seu interior. Sempre com um sorriso nos lábios, mesmo nos momentos pesados de radioterapia e de quimioterapia. Muitas vezes sentada na sala de espera, com ela, no Hospital do Câncer olhando para os lados, às vezes víamos pessoas muito tristes. Ela comentava que aqueles estavam tristes porque não tinham fé em Deus. Fez amizade com as pessoas que estavam fazendo tratamento e com os acompanhantes. Além de conversas agradáveis, ela fazia orações pela cura de todos aqueles doentes.
Outra qualidade que eu muito admirava em Emília era a de que ela aceitava as diferenças existentes entre as pessoas. Sendo Evangélica, entendia-se muito bem comigo e Carlos, respeitando a nossa religião católica. Dizia sempre que éramos pessoas de Deus. Cumpria com sua missão de cristã, aproveitando os momentos de tratamento para evangelizar. Presenteava médicos e enfermeiros com bíblias, e sempre tinha uma palavra doce para todos que com ela conviviam. Em todos os momentos aceitava a vontade de Deus. Mesmo lutando e orando para ficar curada, ela citou diversas vezes as palavras do apóstolo Paulo: "Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro". Disse outras vezes que estava nas mãos de Deus. Viveu seguindo a mensagem de Jesus Cristo. Foi excelente esposa, mãe, filha, irmã , amiga e sempre ajudou aos pobres. A gratidão era uma virtude impregnada na pessoa dela . A todo o momento estava a agradecer a quem a ajudasse.
Aquela tarde de 20 de janeiro de 1969 ficou definitivamente gravada na minha memória. Havia acompanhado Magali de uma aula de pré vestibular a que ela se submeteria alguns dias depois, até a sua residência. Um dia antes, começamos um namoro que ainda hoje perdura, para nossa felicidade. Na rua lateral da casa, uma ladeira que sobe para o Parque de Exposição do Crato, um grupo de crianças brincava. De repente, uma menina loura, de olhinhos azuis muito vivos sobressaindo-se de um rostinho corado e muito suado, pés no chão, aparentando menos de oito anos de idade, se aproximou de nós e fez um pedido: "Magali, me dê um picolé." Quis saber quem era aquela criança e para minha surpresa ela me respondeu que era sua irmãzinha, Emília. Paguei-lhe o picolé que ela solicitava, gesto que nos rendeu uma amizade que nos acompanhou vida afora.
À medida que meu namoro com Magali se solidificava, eu acompanhava o crescimento de suas irmãs mais novas. Ficava intrigado quando via dona Maria Eneida ralhar quando Emília chegava em casa sem os chinelos. Pensava-se que ela os perdia com enorme frequência. Mas depois, ficou-se sabendo que ela se descalçava para doar suas sandálias às crianças pobres que encontrava pelas ruas. Esse pequeno gesto já revelava a grandeza de espírito que se formava naquela criança, cuja preocupação pelos pobres e desvalidos foi uma constante durante toda a sua vida.
Quando adolescente, Emília gostava de ajudar sua irmã Magali, cuidando dos sobrinhos. Chegava em nossa casa nos dias de sábado, e após o almoço costumava dizer: "Vão descansar, dormir um pouco, que eu cuido dos meninos." Mal nós adormecíamos, ela retirava o carro da garagem e saia dirigindo pelas ruas do Crato, sem nenhuma orientação ter recebido antes. Foi assim que ela aprendeu a dirigir, firme e decidida, enfrentando riscos, lutando para conseguir o que sempre desejava. Anos mais tarde, o seu pai lhe atribuía a virtude de ser excelente motorista, fato para o qual eu e Magali muito contribuímos, embora contra nossa vontade.
Emília cresceu, constituiu família, criou seus filhos e aprofundou sua fé em Jesus Cristo, tendo sido uma seguidora exemplar do evangelho. Foi para todos nós que convivemos com ela durante seus últimos dias de vida, um exemplo de vida e uma lição de fé.
Por Magali de Figueiredo Esmeraldo e Carlos Eduardo Esmeraldo
Emilia era linda na aparência externa e mais bela ainda em seu interior. Sempre com um sorriso nos lábios, mesmo nos momentos pesados de radioterapia e de quimioterapia. Muitas vezes sentada na sala de espera, com ela, no Hospital do Câncer olhando para os lados, às vezes víamos pessoas muito tristes. Ela comentava que aqueles estavam tristes porque não tinham fé em Deus. Fez amizade com as pessoas que estavam fazendo tratamento e com os acompanhantes. Além de conversas agradáveis, ela fazia orações pela cura de todos aqueles doentes.
Outra qualidade que eu muito admirava em Emília era a de que ela aceitava as diferenças existentes entre as pessoas. Sendo Evangélica, entendia-se muito bem comigo e Carlos, respeitando a nossa religião católica. Dizia sempre que éramos pessoas de Deus. Cumpria com sua missão de cristã, aproveitando os momentos de tratamento para evangelizar. Presenteava médicos e enfermeiros com bíblias, e sempre tinha uma palavra doce para todos que com ela conviviam. Em todos os momentos aceitava a vontade de Deus. Mesmo lutando e orando para ficar curada, ela citou diversas vezes as palavras do apóstolo Paulo: "Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro". Disse outras vezes que estava nas mãos de Deus. Viveu seguindo a mensagem de Jesus Cristo. Foi excelente esposa, mãe, filha, irmã , amiga e sempre ajudou aos pobres. A gratidão era uma virtude impregnada na pessoa dela . A todo o momento estava a agradecer a quem a ajudasse.
Aquela tarde de 20 de janeiro de 1969 ficou definitivamente gravada na minha memória. Havia acompanhado Magali de uma aula de pré vestibular a que ela se submeteria alguns dias depois, até a sua residência. Um dia antes, começamos um namoro que ainda hoje perdura, para nossa felicidade. Na rua lateral da casa, uma ladeira que sobe para o Parque de Exposição do Crato, um grupo de crianças brincava. De repente, uma menina loura, de olhinhos azuis muito vivos sobressaindo-se de um rostinho corado e muito suado, pés no chão, aparentando menos de oito anos de idade, se aproximou de nós e fez um pedido: "Magali, me dê um picolé." Quis saber quem era aquela criança e para minha surpresa ela me respondeu que era sua irmãzinha, Emília. Paguei-lhe o picolé que ela solicitava, gesto que nos rendeu uma amizade que nos acompanhou vida afora.
À medida que meu namoro com Magali se solidificava, eu acompanhava o crescimento de suas irmãs mais novas. Ficava intrigado quando via dona Maria Eneida ralhar quando Emília chegava em casa sem os chinelos. Pensava-se que ela os perdia com enorme frequência. Mas depois, ficou-se sabendo que ela se descalçava para doar suas sandálias às crianças pobres que encontrava pelas ruas. Esse pequeno gesto já revelava a grandeza de espírito que se formava naquela criança, cuja preocupação pelos pobres e desvalidos foi uma constante durante toda a sua vida.
Quando adolescente, Emília gostava de ajudar sua irmã Magali, cuidando dos sobrinhos. Chegava em nossa casa nos dias de sábado, e após o almoço costumava dizer: "Vão descansar, dormir um pouco, que eu cuido dos meninos." Mal nós adormecíamos, ela retirava o carro da garagem e saia dirigindo pelas ruas do Crato, sem nenhuma orientação ter recebido antes. Foi assim que ela aprendeu a dirigir, firme e decidida, enfrentando riscos, lutando para conseguir o que sempre desejava. Anos mais tarde, o seu pai lhe atribuía a virtude de ser excelente motorista, fato para o qual eu e Magali muito contribuímos, embora contra nossa vontade.
Emília cresceu, constituiu família, criou seus filhos e aprofundou sua fé em Jesus Cristo, tendo sido uma seguidora exemplar do evangelho. Foi para todos nós que convivemos com ela durante seus últimos dias de vida, um exemplo de vida e uma lição de fé.
Por Magali de Figueiredo Esmeraldo e Carlos Eduardo Esmeraldo
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