NE - O Autor deste artigo nos pediu permissão para publicação e ao mesmo tempo, desculpas pelo tamanho do texto, que em si, é maravilhoso, e merece toda a nossa atenção.
Dias atrás , em cima da hora, fiquei sabendo por católicos, que em Barbalha haveria uma palestra do frei Betto abordando o tema da crise da modernidade e espiritualidade. Confesso que só conhecia o frei de ouvir falar coisinhas daqui outras de acolá, mas como os assuntos a serem abordados me atraíram e como alguns bons amigos meus lhe davam boa atenção, resolvi conferir.
Ao adentrar no cine-teatro, local do evento, percebi a presença de diversas autoridades públicas da cidade, inclusive a presença também, de várias autoridades religiosas católicas, o que me fez acreditar que aquilo era realmente um encontro católico. A sessão atrasou um pouquinho a começar e por lá fui ficando, percebi então que o público era bem diversificado, de adolescentes à senhoras, de engomadinhos a alternativos, todos ansiosos com a chegada do frei.
Mas vamos ao que interessa, a palestra teve seu início em tom muito sedutor, aparentemente cordial e amigável , mas logo comecei a me intrigar com algumas contradições proferidas pelo frei em meio à fácil crítica ao neoliberalismo e a tanta “cordialidade”. Como não posso narrar toda a palestra, devido ao exíguo espaço aqui reservado, sou obrigado a abordar apenas umas poucas frases anotadas por mim, em verso de panfleto propagandístico distribuído no evento.
A primeira coisa dita pelo frei que me chamou atenção foi quando disse que “falar de espiritualidade é ir bem além do que fazem as nossas religiões”. Ora, nada absurdo em alguém proferir uma frase destas, mas para um frei, ladeado de padre e em evento católico ou, se não católico, armado para que os assistentes assim percebessem, é um absurdo sim, pois se um frei, padre ou algo parecido diz coisas destas, nada mais natural do que pensar que o catolicismo não tem muito a dizer sobre espiritualidade e se não o tem, por que tal frei ainda se apresenta como frei e continua a andar em encontros católicos?
Depois, o frei se arriscou a falar do filósofo ateniense Sócrates, mas nessa empreitada acabou por interpretá-lo do modo mais simplório possível, para não dizer inverídico. Esqueceu ele que Sócrates é um metafísico, sendo assim, não lhe seria possível dar-lhe interpretação tão materialista como acabou por fazer. A não ser que tenha ele descoberto novas fontes de estudo, não as tendo ainda infelizmente, reveladas ao mundo.
Mas os maiores absurdos ainda estavam por vir, eu e os demais não perdíamos por esperar. Digo absurdo, sem perder de vista o fato de ali, diante de nós, está um “cristão” em evento, de aparência, tipicamente católico. Pois bem, disse o “católico”, que na modernidade, o paradigma medieval da fé foi perdido e hoje, na pós-modernidade, não mais seria possível recristianizar a sociedade. Então, pensando eu o quanto deve ser angustiante a um católico não acreditar na recristianização da sociedade, pois isto implicaria na impossibilidade da evangelização, quase cheguei a ter dó do pobre frei, porém, como o arauto de tal impossibilidade não disse os seus porquês, não encontrei uma explicação plausível que justificasse uma afirmação de tal natureza, então, antes ainda do dó chegar, fiquei pensando, cá com meus botões, que não é que não seja possível recristianizar a sociedade, mas é que ele, o frei, simplesmente, negando às Sagradas Escrituras , não deseja.
Não pense o leitor que os absurdos não mais evoluíram e, com tanta evolução assim, alguém poderia imputar-me por chacota, uma análise darwiniana da palestra. Mas, é que os absurdos foram progressivamente crescendo, inclusive em certos momentos, nem tão progressivamente, chegando mesmo em dadas questões, a dar saltos enormes, tão grandes que não consegui a não ser ideologicamente , encontrar os elos perdidos do discurso.
Depois da impossibilidade de recristianizar a sociedade, “saltou” o “frei de alguns”, com a “grande” lógica de que por terem os direitos humanos algumas bases cristãs, uma vez alguém os cumprindo, o céu lhe estaria garantido. Mas, antes é claro, por meio de uma impertinente retórica, deu um jeitinho de dizer que os valores divinos são apenas humanos. Desta feita, fez o frei o “favor” de “corrigir” o pensamento de dois mil anos de toda a tradição cristã. Fiquei pensando o porquê de Jesus ter se submetido à via sacra e calvário, como também, ter ressuscitado, somente para nos dizer que devemos viver os nossos próprios valores, o que implicaria em dizer, os nossos próprios desejos, não os Dele.
Como cereja do bolo, lembro que o frei convenientemente citando a parábola bíblica do jovem rico, falou que em nenhum momento Jesus nos ensina dez mandamentos, mas apenas cinco. Disse também que quem ama o próximo ama a Deus, mas nem sempre quem ama a Deus, ama o próximo. Tudo isso só para nos dizer o seguinte: que o Novo Testamento não nos pede amar a Deus . Portanto, uma vez estando certo o frei, o homem está livre do Criador, ou quem sabe, como já havia dito a serpente no “abolido” Antigo Testamento, “seremos como deuses”. Fico pensando, se padres e catequistas simpatizantes da dita teologia, seguem tais orientações à risca, isto é, se realmente subtraem do Catecismo e abolem por decreto verbal do frei Betto, cinco dos dez mandamentos do Todo Poderoso.
Lembro agora que antes mesmo da cereja do bolo, o “grande evangelizador” fiel à teologia da libertação e sempre visando à emancipação do homem, falou outra grande “pérola”. Segundo o mesmo, “não temos nós que termos fé em Jesus, mas a fé de Jesus”. Mas omitiu propositadamente, entendo eu, de dizer fé em quê, provavelmente “esqueceu-se” é claro, porque segundo ele mesmo, o mandamento de amar a Deus foi abolido. Ora, se ainda segundo a sua teoria, não precisamos amar a Deus , mas somente ao próximo, isto é, ao homem, a fé só pode ser em nós mesmos. Todavia, para não ser cognominado de intolerante por admitir uma única fé, sendo esta no homem, consorciou-se ao ecologismo crescente, quando então permitiu outras possibilidades de fé e amor, deixando espaços, vejam vocês, para celebrações eucarísticas com a natureza. Talvez seja por estas e outras, que o Papa Bento XVI disse que os maiores inimigos da Igreja estão na própria Igreja, bem como, deve ser pelo mesmo motivo, que também, dentro da própria Igreja, tem muita gente clamando pela mãe natureza .
Ao aproximar-me do final dos meus escritos, informo ainda que da forma que o sr. frei aborda os temas relacionados à crise da modernidade e espiritualidade, antes de identificar os problemas que nos afligem, dissemina-os, pois dessacralizando o espírito, mais afirma as causas da crise, que é a falta de fé propriamente dita, do que qualquer outra coisa. Contudo, os maiores problemas da palestra, não estiveram nas palavras de Betto, mas nas do frei, o primeiro não deveria, mas pode falar qualquer idiotice que seja, porém, para defender interesses escusos, chegar a infiltrar-se no seio da Igreja, para fazendo-se passar por um simples franciscano, desconstruir a fé dos homens de boa vontade, aí já é demais. Faz o seguinte Betto, se para você a Igreja não é digna ao ponto de segui-la, deixa o título de frei pra lá, ingressa ou funda outra religião, entra numa seita qualquer ou apenas milita num desses tantos partidos políticos que existem por aí, inclusive isto seria mais digno de sua parte. Mas aí já seria pedir muita dignidade do sr., não é mesmo?
Para encerrar, digo que não atribuo aos organizadores do evento, mais precisamente às autoridades públicas que lá estiveram, uma culpa dolosa e consciente sobre a propagação de tais questões, devendo as mencionadas autoridades, porém, abrirem bem os olhos para com algumas pessoas que as rodeiam e se lhes apresentam como intelectualizadas e cheias de “boa vontade”. Já os ouvintes, tenho certeza, que a grande maioria lá estavam ingenuamente, principalmente os senhores e senhoras católicas que, conhecendo a integridade de alguns e algumas como as conheço, afirmo, jamais comungariam com tamanhas heresias.
1 - Para que não esqueçam: dia 10 de agosto de 2011.
2 - Apesar da aparente cordialidade, em momento algum, o palestrante abriu espaço para indagações, sequer para retirada de dúvidas por parte do público presente.
3 - O panfleto distribuído divulgava palestra de outro que também dizem ser católico, um companheiro de causa do próprio frei Betto, o ex-frei, Leonardo Boff. E por falar em Boff, vale muito a pena assistir o recente vídeo em “comemoração” ao trigésimo aniversário de um dos seus livros. O vídeo é do Pe. Paulo Ricardo e denuncia o poder paralelo existente dentro da Igreja Católica e pode ser visto facilmente por qualquer pessoa no you tube, eis o endereço: http://www.youtube.com/watch?v=D3bgyw0nRFA
4 - Disse-lhes o Senhor Jesus: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. (Bíblia Sagrada, trad.: Pe. Antônio Pereira de Figueiredo, Mac: 16, 15).
5 - Os ideólogos não estão interessados em veracidades, apenas nas justificativas de suas causas pessoais ou nos seus interesses classistas.
6 - Realmente, as bases legais dos direitos individuais e sociais, têm suas origens em normas morais e/ou religiosas, mas isto, pensam e defendem os jusnaturalistas. Os positivistas e pós-positivistas não atribuem às normas estas mesmas origens, mas simplesmente à vontade do estado ou daquele que profere a lei ou decisão judicial. Vale salientar ainda o seguinte: O sr. frei Betto transfere nossas obrigações religiosas e morais às normas de direitos humanos, que claro, são leis decretadas pelo estado, portanto, me parece que o sr. frei pretende como Thomas Hobbes, mediante convênio, transferir nossos direitos à tutoria estatal absoluta, como disse o próprio Hobbes, à grande besta bíblica, o Leviatã, o que por sua vez, George Orwell chamou de big brother, o grande irmão. É neste caso de estado fascista onde se enquadra o tal frei que não acredita em leis divinas, mas apenas em humanas. Deveria ainda ter lembrado o esperto palestrante, que o aborto será a próxima prática imposta e admitida dentro da lista dos direitos humanos, bem como, que tal prática é de grande interesse dos neoliberais que o frei tanto “critica”, digo, das clínicas abortivas que tanto faturarão com os milhares de milhões de fetos mortos, claro, pagando impostos, portanto, com o aval do Estado.
7 - “Esquece” mais uma vez o frei de dizer que no prosseguimento da mesma Parábola do Jovem Rico, disse Jesus: “em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, por amor a mim e por amor do evangelho que não receba no presente o cêntuplo e no mundo por vir a vida eterna” (Cf.: Bíblia Sagrada, trad.: Pe. Antônio Pereira de Figueiredo, MC 10, 29-30). Claro que o dito frei também omitiria, como de fato omitiu, a tríplice profissão de amor de Pedro, onde Jesus o indagou por três vezes: “Simão, filho de João, tu me amas?” (Idem, ibidem: JO 21, 15-17). Como dizer então que Jesus não quer que o amemos?
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