Este é o editorial do Jornal O Estado de São Paulo de hoje, dia 01/12/2009. Uma excelente análise das revelações feitas pelo Censo do Ensino Superior do MEC, elaborado a partir dos dados de 20089. Vale a pena ler e discutir, visto que vivemos no berço do ensino superior do interior do Ceará. Quem quiser ter acesso às informações do Censo pode acessar http://www.inep.gov.br/
"Elaborado pelo Ministério da Educação (MEC) com base em dados de 2008, o Censo da Educação Superior revela que o ritmo de expansão da oferta de vagas e do número de matrículas já começou a diminuir, depois de ter registrado taxas anuais de crescimento de até 13% na primeira metade da década de 2000. Segundo o Censo, o País tem hoje 5 milhões de estudantes universitários. A vertiginosa expansão do ensino superior, nesse período, com o surgimento de novas universidades particulares confessionais e o aumento de vagas nas universidades públicas, foi o desdobramento natural de um processo iniciado com a universalização do ensino básico, na década de 1990, e o crescimento do número de estudantes do ensino médio. Agora, como lembram os especialistas, a criação de novas instituições universitárias está perdendo fôlego e a tendência para os próximos anos é de estabilização do setor. Entre 2007 e 2008, o número de centros universitários, faculdades e universidades caiu de 2.281 para 2.252, ao mesmo tempo que aumentou o número de vagas ociosas.
Só as 57 universidades federais, que têm 643 mil alunos, ficaram com 7 mil vagas não preenchidas no ano passado. Esse número representa metade das vagas criadas em 2008 pelo programa de expansão do ensino superior custeado pela União. Esse programa, que prevê investimentos de R$ 2 bilhões, é uma das iniciativas mais divulgadas do governo do presidente Lula. Segundo as estimativas, o custo médio de cada vaga numa universidade federal é de R$ 12 mil.
A existência de vagas ociosas nas universidades federais, como mostrou o Censo do Ensino Superior, vai obrigar o MEC a rever sua política para o setor. Para os especialistas, além de criar cursos não profissionalizantes e pouco atrativos para os estudantes, o governo cometeu o equívoco de criar novas universidades federais em regiões já suficientemente atendidas por instituições públicas, confessionais e particulares. "Não houve planejamento. Em algumas regiões, o aumento era desnecessário, pois não havia demanda", diz o pedagogo Carlos Monteiro.
Outro equívoco apontado pelos especialistas foi a criação de universidades federais em cidades pequenas situadas em regiões de fronteira ou no interior do Nordeste, onde a qualidade do ensino básico e do ensino médio é reconhecidamente baixa. É grande o número de candidatos a uma vaga nessas instituições que não conseguem ser aprovados nos vestibulares e de universitários que desistem, por não conseguir acompanhar os cursos oferecidos. "Isso é dinheiro público jogado fora", diz o consultor Ryon Braga, comentando a elevada taxa de evasão nessas universidades. O mais sensato, nesse sentido, teria sido investir no ensino fundamental. Rebatendo a crítica, a secretária de Ensino Superior, Maria Paula Dallari Bucci, lembra que essas universidades foram criadas para oferecer cursos de formação a professores.
Outra importante constatação do Censo do Ensino Superior é o aumento de 11%, entre 2007 e 2008, das matrículas de universidades com notas baixas nos mecanismos de avaliação do MEC. O Censo revela que as 558 instituições reprovadas em provas como o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) concentram 16% dos universitários do País. Quase todas essas instituições pertencem à rede privada e cresceram justamente porque suas mensalidades são as mais baixas do mercado. Em outras palavras, o levantamento do MEC mostra que, na hora de escolher um curso, os alunos se preocupam mais com os valores que terão de pagar do que com a qualidade da universidade. Para o MEC, como esses estabelecimentos atendem as faixas mais pobres da população, o mais adequado não é fechá-los, mas supervisioná-los, estimulá-los a melhorar e aplicar punições, como o corte de vagas - sanção que recentemente foi imposta pelo órgão a algumas faculdades de direito e de medicina. A função do Censo do Ensino Superior é propiciar um diagnóstico do setor, dando às autoridades as informações de que precisam para aprimorar um sistema educacional que sempre primou pela falta de qualidade. "
Fonte: O Estado de São Paulo
"Elaborado pelo Ministério da Educação (MEC) com base em dados de 2008, o Censo da Educação Superior revela que o ritmo de expansão da oferta de vagas e do número de matrículas já começou a diminuir, depois de ter registrado taxas anuais de crescimento de até 13% na primeira metade da década de 2000. Segundo o Censo, o País tem hoje 5 milhões de estudantes universitários. A vertiginosa expansão do ensino superior, nesse período, com o surgimento de novas universidades particulares confessionais e o aumento de vagas nas universidades públicas, foi o desdobramento natural de um processo iniciado com a universalização do ensino básico, na década de 1990, e o crescimento do número de estudantes do ensino médio. Agora, como lembram os especialistas, a criação de novas instituições universitárias está perdendo fôlego e a tendência para os próximos anos é de estabilização do setor. Entre 2007 e 2008, o número de centros universitários, faculdades e universidades caiu de 2.281 para 2.252, ao mesmo tempo que aumentou o número de vagas ociosas.
Só as 57 universidades federais, que têm 643 mil alunos, ficaram com 7 mil vagas não preenchidas no ano passado. Esse número representa metade das vagas criadas em 2008 pelo programa de expansão do ensino superior custeado pela União. Esse programa, que prevê investimentos de R$ 2 bilhões, é uma das iniciativas mais divulgadas do governo do presidente Lula. Segundo as estimativas, o custo médio de cada vaga numa universidade federal é de R$ 12 mil.
A existência de vagas ociosas nas universidades federais, como mostrou o Censo do Ensino Superior, vai obrigar o MEC a rever sua política para o setor. Para os especialistas, além de criar cursos não profissionalizantes e pouco atrativos para os estudantes, o governo cometeu o equívoco de criar novas universidades federais em regiões já suficientemente atendidas por instituições públicas, confessionais e particulares. "Não houve planejamento. Em algumas regiões, o aumento era desnecessário, pois não havia demanda", diz o pedagogo Carlos Monteiro.
Outro equívoco apontado pelos especialistas foi a criação de universidades federais em cidades pequenas situadas em regiões de fronteira ou no interior do Nordeste, onde a qualidade do ensino básico e do ensino médio é reconhecidamente baixa. É grande o número de candidatos a uma vaga nessas instituições que não conseguem ser aprovados nos vestibulares e de universitários que desistem, por não conseguir acompanhar os cursos oferecidos. "Isso é dinheiro público jogado fora", diz o consultor Ryon Braga, comentando a elevada taxa de evasão nessas universidades. O mais sensato, nesse sentido, teria sido investir no ensino fundamental. Rebatendo a crítica, a secretária de Ensino Superior, Maria Paula Dallari Bucci, lembra que essas universidades foram criadas para oferecer cursos de formação a professores.
Outra importante constatação do Censo do Ensino Superior é o aumento de 11%, entre 2007 e 2008, das matrículas de universidades com notas baixas nos mecanismos de avaliação do MEC. O Censo revela que as 558 instituições reprovadas em provas como o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) concentram 16% dos universitários do País. Quase todas essas instituições pertencem à rede privada e cresceram justamente porque suas mensalidades são as mais baixas do mercado. Em outras palavras, o levantamento do MEC mostra que, na hora de escolher um curso, os alunos se preocupam mais com os valores que terão de pagar do que com a qualidade da universidade. Para o MEC, como esses estabelecimentos atendem as faixas mais pobres da população, o mais adequado não é fechá-los, mas supervisioná-los, estimulá-los a melhorar e aplicar punições, como o corte de vagas - sanção que recentemente foi imposta pelo órgão a algumas faculdades de direito e de medicina. A função do Censo do Ensino Superior é propiciar um diagnóstico do setor, dando às autoridades as informações de que precisam para aprimorar um sistema educacional que sempre primou pela falta de qualidade. "
Fonte: O Estado de São Paulo
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