Quatro dias após a onda de violência contra um grupo de brasileiros no Suriname, o Itamaraty segue coletando informações sobre o episódio que deixou cerca de 25 feridos. Nesta segunda-feira, diplomatas brasileiros que estão no país vizinho realizaram uma ronda por hospitais e hotéis da região, em busca de possíveis vítimas ou testemunhas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que o Itamaraty reúna o maior número possível de informações, a fim de que as razões do conflito sejam esclarecidas.
O secretário-geral do Itamaraty, Antônio Patriota, que foi recebido pelo presidente Lula, em Brasília, disse que a situação na região de Albina, a 150 km a leste da capital, Paramaribo, está caminhando para a "normalidade", segundo relato de assessores do Palácio do Planalto. Patriota teria ainda dito ao presidente que, até o momento, não há registro de mortos. No domingo, o Ministério chegou a confirmar uma vítima fatal. Alguns sobreviventes dizem, no entanto, ter a informação de que quatro brasileiros teriam sido assassinados durante o confronto e que os corpos estariam no Instituto Médico Legal (IML), aguardando identificação.
A estimativa é de que 80 brasileiros tenham sido agredidos, inclusive com facas, por um grupo de moradores locais. Quatro pessoas estão hospitalizadas, segundo o Itamaraty. A onda de violência teria sido uma represália ao suposto assassinato de um surinamês por um garimpeiro brasileiro.
Tensão
A relação entre os garimpeiros brasileiros e os chamados "marrons" (descendentes de quilombolas que vivem no interior do Suriname) tem sido marcada por uma forte competição e discordâncias sobre métodos de exploração dos garimpos. É comum, por exemplo, os "marrons" criticarem brasileiros por buscarem um "retorno rápido e acima de tudo", enquanto os brasileiros costumam se referir aos trabalhadores locais como "lentos e preguiçosos", diz o funcionário de uma rádio local. O brasileiro Ricardo Silva dos Reis, de 23 anos, que testemunhou o confronto da última quinta-feira, diz que os brasileiros "nunca foram bem recebidos" na cidade e que todos sempre viveram sob uma "constante tensão". Ricardo conta que trabalhava em um dos supermercados incendiados na noite de Natal e que, até o dia do confronto, "achava que valia a pena enfrentar o perigo em prol do retorno financeiro".
"Mas agora não dá mais. Isso foi um alerta. Agora, só volta lá quem tem muita coragem", diz o brasileiro, que está hospedado na casa de amigos, em Paramaribo, capital do Suriname.
FABRÍCIA PEIXOTO da BBC Brasil, em Brasília
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