Ainda criança, menino de calças curtas, e assisti ao primeiro comício. Cedo da noite, o palanque fora armado numa das calçadas laterais da Praça Francisco Sá (Cristo Rei), defronte ao prédio onde agora funciona o gamão, vizinho, na época, a loja pertencente a Hilário Lucetti, do ramo de discos.
Era um comício do Partido Trabalhista Brasileiro - PTB. Dentre os oradores daquela noite revejo de memória as pessoas de Saturnino Candeia e Francisco Ferreira de Assis, dois políticos engajados nas lutas operárias, agremiação que dominara a cena brasileira durante os longos anos de Getúlio Vargas. Em 1954, haviam perdido o líder, tragédia que marcara a história do Brasil contemporâneo. Naquela noite, lutavam por lugares ao sol na política cratense. Saturnino Candeia chegaria a vereador e Ferreira de Assis a deputado estadual, ambos com boa atuação nos respectivos mandatos.
Algo me impressionava, sobretudo o batuque da charanga, os fogos e o movimento de faixas e bandeiras, agitadas, com força, próximas ao palanque. Isso de certeza aumentava o ânimo dos presentes, causando motivação e crescendo o entusiasmo dos eleitores. Só lá adiante, porém, quando vim participar das refregas de campanha, é que notei ser esse direcionamento fruto do esforço dos próprios candidatos, para aquecer a campanha e conquistar profissionalmente os responsáveis dos votos, os quais, naquela hora imaginei, fossem ações espontâneas, das bases eleitorais interessadas na eleição dos representantes autênticos.
Depois, então, quando já falam em gastos públicos de campanha para nivelar os diversos postulantes aos cargos sob o mesmo padrão de orçamento, sinto a urgente necessidade desta legislação eleitoral que tratará ricos e pobres sob iguais condições de propaganda. Seria, com isso, eliminada de vez a discriminação financeira ora predominante, em que os poderosos das finanças exercitam maior influência através dos meios da publicidade e comem, ao final, a rifa dos regimes.
Tudo sem falar nas demais influências, apesar da permanente vigilância da Lei no combate ao comércio ilegal do voto e da derrama dos dinheiros nos turnos, excrescência característica dos atrasos nacionais.
A propósito, na derradeira eleição municipal, em Crato, no dia do pleito, sem intenções de bisbilhotar flagraria diálogo estabelecido entre duas eleitoras que desciam a Rua Bruno de Menezes, e uma delas, creio que inocentemente, externava, em alto e bom, som a seguinte expressão:
- Mas, mulher, será possível... Até agora não achei quem quisesse comprar o meu voto?!!!
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