Saturday, June 26, 2010

A Copa Do Mundo E O Patriotismo Brasileiro - Por Luiz Claudio Brito de Lima


Em época de “South África 2010”, o “mundo” inteiro ligado, conectado, antenado e cozitas mais nas artimanhas do futebol, vivemos dias felizes, agradáveis e para lá de eufórico. Pessoas que antes mal dispensavam um bom dia ao vizinho, hoje cumprimentam o da esquerda e inclusive o que mora em sua frente (apenas no dia do jogo). Aquele que nada sabia de futebol, nem ao menos quantos jogadores entram em campo, hoje se vê no direito de criticar e sugerir de que forma deve jogar a seleção canarinho. O barulho das vuvuzelas que soam lá no continente africano, atravessam grandes extensões de terras e soam aqui entre nós, é como se cada cidadão do mundo, ao assoprar aquele instrumento horripilante, estivesse ao nosso lado, e pior é que esta, pois antes dos jogos da nossa seleção alguns compatriotas fazem tanto barulho, estardalhaçam a ponto de desejarmos a surdez, amar a solidão, querer ser Robinson Crusoé, acho que eles pensam que o grupo de jogadores pátrios irão ouvi-los, pena que a tv não tenha ouvidos.

Na mesma toada dessa comemoração “copiana” ( desculpe-me o termo, se o ex-ministro Magri criou o imexível, posso criar o copiano), surgem os oportunistas de plantão, àqueles que utilizam o período festivo para usá-lo a seu favor. Por exemplo, os comerciantes, acredito que em todo o Brasil, haja vista a cena mais corriqueiro, ou aquela vista nos semáforos, milhares de trabalhadores que sobrevivem da informalidade vendendo apetrechos diversos, bandeiras, vuvuzelas e buzinas outras. Sem olvidar os fabricantes de explosivos, isso mesmo , aqueles que estouram em nossos ouvidos, quando não na mão, nos pés, ou em outra parte do corpo.E ai, se vende de tudo, desde cigarros até veículos, tudo em nome da copa do mundo. Na tv, até a propaganda de plano funeral começa mais ou menos assim: “sou brasileiro, com muito orgulho, não morro nunca....” , é impressionante, até produtos “invendíveis” se comercializa em nome do futebol.

Agora o oportunismo maior ocorre justamente onde não deveria ocorrer: NO SERVIÇO PUBLICO, pois é meus caros amigos, os nossos administradores, aproveitando a comoção nacional, decretam feriado, dispensam funcionários, atestam a falência do serviço publico ( o que não é segredo) . Imaginemos a seguinte cena: a Sra. Maria, grávida, corre para o hospital, a bolsa esta a ponto de estourar, o desespero é imenso, chega a futura mamãe no hospital e por incrível que pareça, ninguém esta ali para recebe-la, o acompanhante da grávida, corre, implora, roga ajuda, arruma uma maca entra com a mãe em inicio de trabalho de parto, chama-se o obstetra, logicamente por meio do atendente de enfermagem, quando aquele toma conhecimento, diz, espera um pouco , o primeiro tempo começou agora, “é jogo de campeonato”, fala para ela segurar o pimpolho.Brincadeira não... porém, quem acha que estou exagerando pense que em dias normais, ou seja, sem motivo para comemorações, já é difícil ser atendido em um hospital, imagine durante esse período.

Lógico, que no exemplo acima, pura “ficção”, sabemos que os nossos competentes administradores colocam pessoal de sobreaviso, como se resolvesse alguma coisa... Os outros órgãos públicos, que não necessitam de esquema de plantão, esses se o jogo for ser realizado ás 11hs, com o final previsto para as 13hs, com certeza não voltarão, pois necessitam assimilar melhor, isto é, se perdemos, precisam se recompor ( e isso leva tempo) já no caso de vitória, tem a comemoração regado por bebidas e comidas diversas. Agora o mais grave de tudo isso, ocorre com o verdadeiro “patriota”, aquele cidadão que compra bandeira, camisa, estampa adesivos no carro, esse é o verdadeiro BRASILEIRO, ama o pais, seu povo, sua gente. Mais que pena que esse comportamento se dá somente a cada quatro (4) anos, nos demais ele é um “sem pátria” , haja vista que nos demais, para boa parte desses “patriotas”, quer mesmo a ruína do pais, da economia; a bandeira, um dos nossos grandes símbolos, outrora adquirida com amor , agora restará guardada ( isso para os mais cuidadosos, pois a grande maioria jogará fora). Esse mesmo brasileiro “patriota” achará estranho um outro brasileiro colocar uma bandeira do seu pais no carro, ou ainda desfilar com a camisa da seleção brasileira , pois isso, para esse ex-patriota, é ser cafona, fora de moda, afinal só é permitido na época da copa mundial, depois, que se dane o pais.

Sei que esse simples texto causará indignação em alguns, porém, a verdade dói, machuca, incomoda, é melhor fingimos que esta tudo bem, tudo maravilhosamente bem, não importa se nessa época o governo (federal, estadual , municipal) aprovam medidas corporativistas, oportunas, sem nenhum resultado efetivo para a população, é nesse período que a “vaca vai para o brejo” , que a guarda é baixada, que o povo, tal qual a musica de Zé Ramalho quando diz “...povo marcado, povo feliz...”, não percebe o quanto é inútil perder tempo em comemorar a classificação de um time de jogadores que, na sua grande maioria, vivem fora do pais, ganhando milhões de reais ( ou euros, ou dólares, ou sei lá o que....) enquanto nós aqui, ganhando migalhas, sobrevivendo dia a dia; os aposentados ganhando o insuficiente para comprarem remédios, todavia, paramos o pais, gastamos ( o que não temos, põe na conta, anota na caderneta...) com bebidas, carnes... Afinal, temos que mostrar para o mundo que amamos o pais, que somos “patriotas” que vivemos felizes, que sabemos tudo sobre futebol, somos os melhores do mundo, fomos cinco (5) vezes “campeão do mundo” . Educação, saúde, melhor distribuição de renda? Bobagem, somos o máximo em futebol e samba... E viva o Brasil, gol laço, foi de quem mesmo?

Luiz Claudio Brito de Lima.

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