Cristina Couto reuniu em livro (As cidades de Chico Buarque) fragmentos de uma época histórica do Brasil recente e intercalou-os com páginas das músicas de Chico Buarque de Holanda e. deste modo, criou belo painel que bem representa a fase crítica dos anos de chumbo. Nas marcas que anotou dos passos do poeta nos bastidores da convulsa vida nacional, a escritora conta em linguagem eficiente o que vencíamos do medo e da censura feroz para trazer ao povo os espelhos urbanos que alimentavam apreensivas esperanças e resistência.
Perante o jeito que exercita, Cristina de Almeida Couto, membro da Academia Lavrense de Letras, professora universitária e jornalista, consolidou no seu trabalho a escritura poética de Chico Buarque na visão acadêmica suficiente de dizer o que aconteceu no imaginário da criação artística, contradições e vislumbres doridos, na fase extrema, totalitária. Caminhava-se pelas ruas deserdados; atravessavam as lamúrias de um modelo econômico de época, à força dos poderes internacionais na república ansiosa de algum crescimento material.
Talhes profundos, no entanto, feriam por dentro a alma, sobretudo de jovens da classe média embalados nos sonhos imaginários de liberdades civis ideais, frustradas na quebra institucional da luta brasileira.
Trabalhou com êxito o tema desse encontro das duas vertentes, do real no cotidiano, e das letras que o interpretavam através palcos e discos, a transmitir vozes gritadas ao enlevo dos ritmos novos – misturas de samba do morro, bossa nova e inventividade nativa.
Feliz a executar o projeto estabelecido, Cristina nos permite viver ou reviver a composição popular no mister desses acontecimentos, versão do coração de quem atendeu consignar a poética na história dos vencidos daqueles instantes.
Uma viagem técnica e sentimental, pois, através das letras das cantigas... exercício de fixação salutar e digno de quem deseja guardar as lições amargas da nossa geração urbano-industrial.
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