Mestre Zé Gonçalo do Reisado de Couro, do Barro Vermelho, localizado no Município de Barbalha. FOTO: ELIZÂNGELA SANTOS |
A tradição do Reisado de Couro remonta mais de 100 anos no Município de Barbalha, no Cariri, e o costume resiste
Barbalha. Um dos mais raros tipos de reisado do Nordeste se encontra no Barro Vermelho, neste Município. É o Reisado de Couro. O grupo foi resgatado há mais de três décadas e resiste ao tempo com os seus brincantes. O Mestre José Pedro de Oliveira, Mestre Gonçalo ou Mestre Pedro, com 81 anos, luta pela permanência da tradição e sai no comando das ordens com o seu pandeiro.
Final de tarde no Sítio Barro Vermelho, e está lá, sentado na varanda de casa no seu sítio, o receptivo brincante Zé Gonçalo, que já foi líder dos penitentes, o decurião, e Mateu de reisado. Desde cedo, mesmo sem o apoio do pai, decidiu levar a brincadeira de reisado com muito respeito. Chegava a fugir de casa, aos 14 anos, para brincar. E deixava a rede montada como se tivesse gente lá dentro dormindo.
O personagem do Mateu ficou só na lembrança. O Mestre fala da sua destreza na juventude e de um erro do adversário na dança. Isso resultou em sangue, já que um corte acima do olho fez o companheiro ir para o hospital. O nervosismo do Mestre Zé Gonçalo fez com que ele não quisesse mais encarar o personagem. Foi a única vez que tirou sangue de alguém, mesmo sem querer.
A tradição do Reisado de Couro remonta mais de 100 anos em Barbalha, segundo o Mestre, que recebeu o título de Mestre da Cultura Popular no Estado, em 2005. Zé Gonçalo agora busca incentivar os novos brincantes, o que não é uma tarefa fácil. O medo é que a tradição fique sem continuidade.
As apresentações do grupo aconteciam na sede dos agricultores do bairro e depois nas ruas da cidade de Barbalha. Na principal festa da cidade, no dia 13 de junho, é de lei o grupo se apresentar. Na data também se comemora o aniversário do líder do grupo.
"Estou perto de viajar e o importante é que fique a cultura", diz. Ele afirma que sempre procura estar nas apresentações para dar o comando com o seu pandeiro. Para o Mestre, os brincantes fazem as apresentações, mas nunca é como se o mesmo estivesse presente. O velho agricultor se empolga quando o assunto é reisado. "A cultura popular não pode acabar porque vem do começo do mundo. Se acaba se o mestre não se interessar de passar para as próximas gerações", ressalta.
Criação
Zé Gonçalo teve a preocupação de aprender com os outros. Foi decorando os passos e as letras de cabeça com outros mestres. Quando decidiu montar o Reisado de Couro, foi criando com os outros colegas, como Chiquinho Bernardo. As vestimentas e as máscaras de couro foram sendo confeccionadas aos poucos.
O grupo foi assumindo uma identidade e alegria. "A diferença do reisado do couro é que os caretas entram gritando", diz Zé Gonçalo. As vestimentas do grupo foram sendo criadas aos poucos, e também as máscaras de couro de boi.
Além do Mestre, tem os caretas, um babau (cavalo) e uma burrinha, o boi careta, o urubu e o jaraguá. São personagens que contam a história de uma tradição rara. É uma dança diferente. "Só de animação", completa o Mestre.
No comando da batida do pandeiro, no ritmado da sanfona e do bumba, os personagens entram em cena. É a entrada da chegada na casa: "Ô de casa, ô de fora, menina vem ver quem é...". Tem também a chegada do boi.
Elementos distintos
De acordo com o folclorista Cacá Araújo, o reisado se apresenta com estrutura ou elementos distintos nas várias regiões do Estado. No Cariri, a presença do negro na cultura da cana-de-açúcar faz aparecer o reisado como Reis de Congo. No sertão, a cultura do gado o transforma no Reis de Couro ou Reis de Careta. No litoral, surgem novas figuras como os "papangus" e o "folharal".
As dificuldades de manutenção das tradições desses grupos, segundo Cacá, tem como vilão e um dos principais entraves ao desenvolvimento de qualquer folguedo a carga midiática. "Difundindo saberes e costumes estranhos à nossa cultura, muitos deles carregados de futilidade consumista e pornografia", constata ele.
Idade
81 anos tem o mestre José Pedro de Oliveira, conhecido como mestre Gonçalo ou mestre Pedro. Ele luta pela permanência da tradição e sai no comando das ordens com o seu pandeiro
MAIS INFORMAÇÕES
Secretaria de Cultura do Município de Barbalha
Região do Cariri - Estado do Ceará
Telefone: (88) 3532.1708
ELIZÂNGELA SANTOS
Repórter do Diário do Nordeste
Colaboradora do Blog do Crato e Chapada do Araripe
Barbalha. Um dos mais raros tipos de reisado do Nordeste se encontra no Barro Vermelho, neste Município. É o Reisado de Couro. O grupo foi resgatado há mais de três décadas e resiste ao tempo com os seus brincantes. O Mestre José Pedro de Oliveira, Mestre Gonçalo ou Mestre Pedro, com 81 anos, luta pela permanência da tradição e sai no comando das ordens com o seu pandeiro.
Final de tarde no Sítio Barro Vermelho, e está lá, sentado na varanda de casa no seu sítio, o receptivo brincante Zé Gonçalo, que já foi líder dos penitentes, o decurião, e Mateu de reisado. Desde cedo, mesmo sem o apoio do pai, decidiu levar a brincadeira de reisado com muito respeito. Chegava a fugir de casa, aos 14 anos, para brincar. E deixava a rede montada como se tivesse gente lá dentro dormindo.
O personagem do Mateu ficou só na lembrança. O Mestre fala da sua destreza na juventude e de um erro do adversário na dança. Isso resultou em sangue, já que um corte acima do olho fez o companheiro ir para o hospital. O nervosismo do Mestre Zé Gonçalo fez com que ele não quisesse mais encarar o personagem. Foi a única vez que tirou sangue de alguém, mesmo sem querer.
A tradição do Reisado de Couro remonta mais de 100 anos em Barbalha, segundo o Mestre, que recebeu o título de Mestre da Cultura Popular no Estado, em 2005. Zé Gonçalo agora busca incentivar os novos brincantes, o que não é uma tarefa fácil. O medo é que a tradição fique sem continuidade.
As apresentações do grupo aconteciam na sede dos agricultores do bairro e depois nas ruas da cidade de Barbalha. Na principal festa da cidade, no dia 13 de junho, é de lei o grupo se apresentar. Na data também se comemora o aniversário do líder do grupo.
"Estou perto de viajar e o importante é que fique a cultura", diz. Ele afirma que sempre procura estar nas apresentações para dar o comando com o seu pandeiro. Para o Mestre, os brincantes fazem as apresentações, mas nunca é como se o mesmo estivesse presente. O velho agricultor se empolga quando o assunto é reisado. "A cultura popular não pode acabar porque vem do começo do mundo. Se acaba se o mestre não se interessar de passar para as próximas gerações", ressalta.
Criação
Zé Gonçalo teve a preocupação de aprender com os outros. Foi decorando os passos e as letras de cabeça com outros mestres. Quando decidiu montar o Reisado de Couro, foi criando com os outros colegas, como Chiquinho Bernardo. As vestimentas e as máscaras de couro foram sendo confeccionadas aos poucos.
O grupo foi assumindo uma identidade e alegria. "A diferença do reisado do couro é que os caretas entram gritando", diz Zé Gonçalo. As vestimentas do grupo foram sendo criadas aos poucos, e também as máscaras de couro de boi.
Além do Mestre, tem os caretas, um babau (cavalo) e uma burrinha, o boi careta, o urubu e o jaraguá. São personagens que contam a história de uma tradição rara. É uma dança diferente. "Só de animação", completa o Mestre.
No comando da batida do pandeiro, no ritmado da sanfona e do bumba, os personagens entram em cena. É a entrada da chegada na casa: "Ô de casa, ô de fora, menina vem ver quem é...". Tem também a chegada do boi.
Elementos distintos
De acordo com o folclorista Cacá Araújo, o reisado se apresenta com estrutura ou elementos distintos nas várias regiões do Estado. No Cariri, a presença do negro na cultura da cana-de-açúcar faz aparecer o reisado como Reis de Congo. No sertão, a cultura do gado o transforma no Reis de Couro ou Reis de Careta. No litoral, surgem novas figuras como os "papangus" e o "folharal".
As dificuldades de manutenção das tradições desses grupos, segundo Cacá, tem como vilão e um dos principais entraves ao desenvolvimento de qualquer folguedo a carga midiática. "Difundindo saberes e costumes estranhos à nossa cultura, muitos deles carregados de futilidade consumista e pornografia", constata ele.
Idade
81 anos tem o mestre José Pedro de Oliveira, conhecido como mestre Gonçalo ou mestre Pedro. Ele luta pela permanência da tradição e sai no comando das ordens com o seu pandeiro
MAIS INFORMAÇÕES
Secretaria de Cultura do Município de Barbalha
Região do Cariri - Estado do Ceará
Telefone: (88) 3532.1708
ELIZÂNGELA SANTOS
Repórter do Diário do Nordeste
Colaboradora do Blog do Crato e Chapada do Araripe
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