Monday, January 3, 2011

Mascarados de Potengi enriquecem folguedo - Reportagem: Elizângela Santos


O Reisado do Sassaré usa máscaras ou caretas, mas numa produção diferenciada. Encanta pelo amor à cultura


O Reisado do Sassaré ou os Caretas do Sassaré, em Potengi, resistem ao tempo.
FOTO: ELIZÂNGELA SANTOS


Juazeiro do Norte. Outro grupo raro no Cariri se encontra no Município de Potengi, no Sítio Sassaré, a 3 quilômetros da cidade. É o Reisado do Sassaré. O grupo também usa máscaras ou caretas, mas numa produção diferenciada. Confeccionada em madeira e couro, os antepassados resistem ao tempo, por amor à cultura e a preservação de uma arte. Quando vem o chamado para o grupo se apresentar, começa todo um ritual de organização do material para seguir viagem, que resulta mesmo num grande divertimento. É a brincadeira se transferindo para outro terreiro.

São seis agricultores do Sítio Sassaré, mais os músicos e os personagens. Ao todo, são 12 personagens que eles conseguem formar. No entanto, conforme o formato anterior, seriam 12 caretas, além dos outros integrantes. A preocupação é pela permanência do grupo, mesmo com o número reduzido dos personagens. Mestre Antônio Luiz de Sousa, de pequeno, que há mais de 23 anos conduz o grupo, deixava muitas vezes de dançar para escutar os chamamentos do mestre Raimundo Maximiniano. As músicas soavam ao seu ouvido como um aviso do destino. O menino só não aprendeu a fazer as máscaras.

A sua preocupação constante é de como fará para dar continuidade a um trabalho. A arte que atravessou décadas e, segundo o mestre, desde o seu bisavô tem notícia do envolvimento da família com o que ele chama de brincadeira. A tradição nasceu no Município, na comunidade do Sítio Rosário. Lá se realizavam grandes espetáculos aos olhos dos visitantes até de outras cidades da região. Junto com o grupo, a lapinha da comunidade também chamava a atenção.

No grupo, personagens como o jaraguá, guriabá e a margarida estão ausentes, além dos caboclinhos. Há a presença do violeiro, que tem um papel importante nas apresentações.

Seu Francisco José de Amorim, um dos mais antigos na brincadeira, junto com o mestre, também tem a preocupação de juntar as roupas e incrementar os chapéus. Até para comprar os papéis coloridos para enfeitar as indumentárias é preciso buscar ajuda da comunidade. Todo esse movimento dá um tom especial e comunitário às brincadeiras. Chico percebe a importância de se valorizar os grupos de tradição. (ES)

MAIS INFORMAÇÕES
Prefeitura de Potengi
Diretoria de Cultura
culturapotengi@gmail.com
Telefone: (88) 3538.1225

CRATO E JUAZEIRO

Cortejo de grupos acontece até dia 6

Juazeiro do Norte. O cortejo dos grupos de tradição popular acontece tradicionalmente de 25 de dezembro até 6 de janeiro, Dia de Reis, um dos raros momentos de encontro dos integrantes nas ruas das cidades caririenses. Os brincantes mostram, no passo da resistência, a história que atravessa séculos.

Em Juazeiro do Norte, são cerca de 70 grupos que saem de bairros como o João Cabral, Pio XII e do Frei Damião. A maioria deles urbano. O encontrão acontece na Rua São Pedro, no Centro, mas um dos problemas ainda está relacionado a violência reservada a alguns grupos rivais. Os mestres estão sendo chamados à responsabilidade. O importante é ter uma festa bonita. Segundo a Secretaria de Cultura deste Município, dentro desse caldeirão cultural, com lapinhas, bandas caçais, entre outros, são pelo menos 20 grupos de reisados. O bailado dos reis também recebe a cadência dos toques das bandas cabaçais. As ruas se transformam num grande festejo. O gerente de tradição de cultura popular da Secretaria, André de Andrade, aguarda uma confirmação da Secretaria de Cultura do Estado sobre verba para subsidiar a apresentação dos grupos, para ajudar na compra de vestimentas, lanches e transporte, apoio necessário e incentivador.

Mas a reverência ao Dia de Reis é o mais importante dentro do projeto natural. A religiosidade popular da terra do Padre Cícero é o grande incentivo e esse fator se estende também para outras cidades da região, que cumprem o ritual de festa, entre o sagrado e o profano, pois nos grupos existem personagens que dão esse tom, mas dentro de uma dramatização que enfoca o sagrado como principal fundamento.

No Crato, os desfiles dos grupos começam no início da tarde, com trajetos pelas ruas e o encontro no fim da tarde na Praça da Sé. Segundo o folclorista Cacá Araújo, o Crato e o Cariri constituem território de resistência cultural em todas as frentes. Os mestres de reisado Aldenir de Aguiar e Mazé Luna são exemplos de dedicação e liderança na preservação e desenvolvimento das tradições.

Congo

O Reisado Decolores Dedé de Luna do Muriti (Mestra Mazé Luna) e o Reisado do Mestre Aldenir são reisados de Congo. Esses dois tradicionalmente fazem suas apresentações tanto nas localidades de origem e também nas ruas. Têm sua estrutura baseada na hierarquia social de uma corte, com Rei, Mestre e Contramestre ao centro, ladeados por duas fileiras de brincantes, compostas de Embaixador, Guia, Contraguia, Coice, Contracoice e Bandeirinhas (representados pelas crianças). Portam espadas e se vestem como guerreiros medievais. No Reis de Congo, o Boi é a principal figura. Com tudo isso, o Cariri reverencia o Dia de Reis. (ES)

Distinção
"O reisado se apresenta com estrutura ou elementos distintos em todo o Estado do Ceará"
Cacá Araújo
Professor e folclorista


ELIZÂNGELA SANTOS
Repórter do Diário do Nordeste
Colaboradora do Blog do Crato e Chapada do Araripe OnLine

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