Saturday, December 22, 2012

Meu Último encontro com Luiz Gonzaga - Por: Geraldo Menezes Barbosa


Faz muito tempo, mas aconteceu. Vale a pena lembrar. Após abastecer meu veiculo, a margem da BR 116, descobri sentado, no restaurante, ao lado do seu motorista, o famoso Luiz Gonzaga, de boné e óculos escuros, tendo o olhar voltado para estrada. Estava absorto, talvez lembrando sua terra no Exu ou estimulado pelo cheiro da carne assada que vinha do alpendre.

Luiz trazia no rosto desenhos profundos de um homem amargurado, emagrecido, ombros caídos, em nada se assemelhando aquele biotipo amorenado, monumento vivo de braços valentes repuxando os pulmões da sanfona, estremecendo a plateia no melhor ritmo do reinado do baião daqueles velhos tempos. Aproximei-me dele para tocar-lhe o ombro, em sinal de identificação amiga dos nossos bons momentos da Radio Progresso de Juazeiro, nos shows delirantes programados.

Luiz Gonzaga! Que bom revê-lo! Nunca mais andou pelo Juazeiro?

Minha saudação de alegria teve uma resposta melancólica. Erguendo a cabeça, o sanfoneiro fitou-me buscando uma identificação que não conseguia e balbuciou triste:

Como vai o senhor?

Resposta anonima e diferente a um passado bem recente, quando nos abraços no acerto de contas dos contratos e na alegria de suas noites de sucessos. Desconversei qualquer coisa e fui saindo entristecido. Seu motorista, ao lado, sinalizou-me com um olhar de decepção confirmando que seu patrão já não era o mesmo. Prossegui viagem profundamente constrangido por aquele encontro. Sentir que o rei estava próximo de morrer. Já não expressava a simpática eloquência comunicativa de festa interior, quando dissertava o linguajá do baião em livre palestra regionalista, sem a necessidade de olhar para o teclado. Luiz exibia ali um fantasma amargurado de corpo e alma. Havia perdido a alegria de viver, vitima da falta de saúde, decepções e sem esperança por um amanha propicio. Nunca imaginei ver aquele "monarca nordestino" condenado a um abandono de si próprio, sem a capacidade de sonhar. Ele que distribuiu tantos sonhos de amor por esse mundo a fora. Que encantou os terreiros e palcos. Acelerei o carro na certeza de ter visto, pela ultima vez, o mais eloquente folclorista do Brasil.

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS
Repassado por Blog do Sanharol - Antonio Morais

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