Se jamais acreditei que a Igreja, a Sinagoga e a Mesquita tenham mais do que dar às nossas almas que o próprio Deus, muito menos me julgo obrigado a crer que qualquer instituição universitária, por melhor que seja, venha a conceder mais ao estudioso do que o estudo nas próprias fontes. Por isso não consigo ver a universidade como um ambiente sagrado – como até alguns jovens de sisuda inteligência o conseguem – em que a voz de um Ph.D. repercutisse em meus ouvidos como a de um papa. O que acontece, na maioria das vezes, é justamente o contrário: como quando eu me vi submetido a um processo de avaliação docente, em que perdi pontos porque entreguei a meus examinadores um livro então publicado em lugar de um suposto material didático, (quando bastava, segundo eles, uma cópia em xerox do original), – como se um livro de filosofia da arte não fosse um material didático – e porque não tinha participado, nos dois últimos anos, de nenhuma banca examinadora, como se isso dependesse de mim, e como se o ato de avaliar e ser avaliado fosse superior ao de pensar, ensinar, escrever e publicar livros… Daí o vazio da chamada vida acadêmica, onde o que menos conta é o conhecimento em si mesmo, e onde o magistério detém menos importância do que a atividade administrativa, e o que mais sobra, além das discussões teóricas sobre gêneros e manifestações periféricas, e das reuniões intermináveis, é a luta por cargos e consultorias.
Péssima como esposa ou como amante, protocolar e rígida, a universidade hoje só costuma despertar o entusiasmo de espíritos rotineiros e subalternos. Dela só me resta hoje, além da ligação pessoal com algumas figuras independentes, a afável lembrança dos alunos que ainda me convidam, como recentemente, para paraninfo de suas turmas. Um sinal de que, também, não foi má a lembrança que lhes deixei…
Ângelo Monteiro é ensaísta, poeta, filósofo e professor da UFPE
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