Thursday, December 30, 2010

Benigna, a Santa de Inhumas – por Armando Lopes Rafael



Há cerca de oito anos publiquei no “Jornal do Cariri” o artigo abaixo. Esta semana surpreendi-me ao ser informado que as autoridades diocesanas decidiram fazer um estudo sobre a devoção popular existente em relação à memória da garota Benigna Cardoso. Confiram o que escrevi – anos atrás – sobre este fenômeno.

Inhumas é um povoado do município de Santana do Cariri, localizado a 2 km do centro da cidade. Lá ocorre um fenômeno da religiosidade popular, tão comum no hinterland nordestino. A memória póstuma de uma jovem, de nome Benigna Cardoso, é alvo de veneração pelo povo simples de Inhumas e localidades vizinhas a este povoado.

Curioso em conhecer esta história fui até Inhumas e ouvi de um habitante daquela localidade que aquele povoado foi palco, há quase 70 anos, de uma tragédia. A adolescente Benigna Cardoso, nascida naquela localidade, em 15 de outubro de 1928, levava uma vida igual às demais mocinhas da zona rural naqueles recuados tempos. Fazia as tarefas de casa e era encarregada, também, do abastecimento de água da família que a criava, pois era órfã.

Para tanto se deslocava, todos os dias, até um riacho distante da sua casa e trazia num pote de barro a água necessária ao consumo do dia. Sua formosura atraiu a atenção de um jovem de sua idade, Raul Alves de Oliveira, também residente em Inhumas. Mas Benigna nunca alimentou a expectativa do namoro pretendido por Raul.

No dia 24 de outubro de 1941, nove dias após completar treze anos de idade, Benigna iniciou cedo seus afazeres domésticos. Depois colocou o pesado pote na cabeça e, enfrentando o sol causticante, tomou o caminho da fonte de água. Antes de atingir o local, numa curva da estrada, apareceu de repente Raul que lhe fez propostas amorosas recusadas de forma categórica pela mocinha. Tresloucado, Raul sacou de uma faca que trazia e golpeou por três vezes o corpo franzino de Benigna. Um dos golpes quase decepou a cabeça da jovenzinha, tamanha a fúria que dominava o homicida.

O fato chocou a todos. Depois da morte da jovem começaram as romarias ao local onde ela foi assassinada. Até hoje, muitas pessoas da redondeza de Inhumas fazem promessas rogativas à alma de Benigna. Até pessoas ilustres nascidas em Santana do Cariri – agora residentes em outras regiões do Brasil – recorrem à intercessão da jovenzinha para obter graças.

Um modesto marco, encimado por uma pequena cruz, recebe muitos ex-votos dessas graças alcançadas. O povo de Inhumas se refere à Benigna como “A santa mártir”. Seria bom que a Prefeitura de Santana do Cariri mandasse construir no local uma capela ampla para abrigar os que ali vão rezar, acender velas e deixarem ex-votos pelas graças alcançadas por intercessão da jovem Benigna Cardoso.

Texto e postagem de Armando Lopes Rafael

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