A vida é bela e o mundo não é somente dos vivos, mas também dos mais espertos. Há alguns anos, quando eu ainda trabalhava em Juazeiro, ouvi entre as muitas histórias atribuídas ao popular Lunga do Juazeiro, esta que segue.
Nas eleições municipais de 1988, seu Lunga se candidatou a vereador daquela cidade. Gastou as pequenas economias que sua sucata lhe proporcionara na compra de milhares de pares de sandálias para convencer os eleitores. Ficou apenas com um velho burro de puxar carroça e uma rural presa na garagem de sua casa, pois a prefeitura do Juazeiro construiu um calçadão na rua onde seu Lunga morava. Seu Lunga se recusou a tirar o carro da garagem, alegando ao então prefeito, Manuel Salviano, que na sua casa o prefeito não mandava. Quando realizaram a apuração da eleição, os votos esperados por seu Lunga sumiram, e ele perdeu feio.
Então, foi vender o único bem que lhe restava: o pequeno burro. Levou-o à feira dos animais, existente ainda hoje em todas as cidades nordestinas. Logo que seu Lunga chegou à feira com o burrinho, não demorou a aparecer interessado na compra do animal: “Quanto custa este burro, seu Lunga?” Perguntou um pretenso comprador. “Trezentos mil.” Respondeu seu Lunga, com aquela secura que lhe era habitual. “Dou duzentos no pau.” Replicou o comprador, utilizando uma gíria ainda muito em voga na região, que significa uma compra à vista. “Só vendo o burro inteiro.” Respondeu seu Lunga, com aquela sua polidez de trator de esteira, pondo fim, dessa forma, àquela inútil discussão.
Por Carlos Eduardo Esmeraldo
Por Carlos Eduardo Esmeraldo
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