O FESTIVAL
Na década de sessenta eram comuns os festivais de canção popular. O Crato, guardadas as devidas proporções, também organizou os seus festivais. Realizavam-se na quadra de esportes, próxima ao Hospital São Francisco. Nesta mesma época o Chico Soares resolveu fazer um empréstimo no Banco. O Gerente foi taxativo:
- “Para você eu não empresto. A não ser que tenha um avalista bom, eu empresto”.
- “Serve o Brigadeiro?”.
O gerente aceitou na hora e já preparou a letra para colher as assinaturas. O Brigadeiro era rico e dono de um grande patrimônio.
Lá se foi o Chico dar a “facada” no amigo. E o Brigadeiro:
- “Chico, eu não sei não. E esse Gerente te empresta?”
- “Com o seu aval ele empresta até o Banco todo!” ·
O Brigadeiro, coçando a cabeça, pensou: “Será que esse ‘fio duma égua’ vai pagar? Mas ele é meu amigo! Amigo é para ajudar aos outros. Eu vou arriscar”. E falou:
- “Me dá essa letra que eu assino!”
Chegou a data do vencimento e nada de pagamento. O Brigadeiro recebeu a primeira cobrança do Banco, mas pensou: “Vou dar mais uns dias. Ele deve pagar. Não vai fazer uma desfeita dessa com o amigo”
Diante da segunda cobrança, o Brigadeiro resolveu ir à Repartição, onde o Chico trabalhava. E numa sala bem comprida a sua mesa ficava lá nos fundos. O Brigadeiro, logo da porta, segurou a letra com as duas mãos, levantou-a bem alto e falou:
- “Chico, Chico é a letra que você não pagou e eu fui pagar lá no Banco. E aí?”
O Chico, com a cara mais lisa do mundo:
- “E ai? Ora Brigadeiro não é uma letra? Bota uma música nela que é capaz de você ganhar o festival de música, lá na quadra!!!”
O RICO
Uma das coisas que Chico Soares sabia fazer era declaração de imposto de renda. Por este serviço ele cobrava um determinado valor. Um dia surgiu a oportunidade de fazer a declaração de um grande industrial e homem rico de Orós. E o Chico pensou: “É agora que eu vou pegar num bom dinheiro!” Não quis nem que ele viesse ao Crato pegar a declaração. Ele mesmo foi a Orós. Ia pensando em cobrar um bom dinheiro. Ao avistá-lo, o industrial veio ao seu encontro. Agradeceu o favor que o Chico fizera e, ao mesmo tempo, enfiou no bolso da sua camisa uma nota. Quando o Chico, entusiasmado foi olhar o valor, era uma nota que, nos dias de hoje, valeria uns cinqüenta reais. A decepção foi grande. Pensou que ia se benzer e quebrou a testa. Comentou:
- “É Luisinho, o homem é sabido demais! Tinha que ser rico mesmo...”
NÃO IA MAIS SAIR DE LÁ
O Chico Soares também era um freqüentador do cabaré da Glorinha. Ia mais para bater papo. Um dia, estava com a esposa na Praça Siqueira Campos quando ia passando a Glorinha. Falou para ela:
- “Antonieta você não conhece a Glorinha, não é? Olha, é aquela ali. Aquela loura!”
- “Eu quero lá saber de rapariga! Respeite-me, Chico”.
- “É porque você nunca foi lá! Se você fosse, não ia mais querer sair de lá!”
A CHUVA
Um dia o Chico Soares ia saindo de casa com a esposa e percebeu que estava “bonito para chover”, como diz o cearense. Sugeriu, então:
- “Antonieta vamos voltar para casa que vai chover”.
Como de fato. Foi só chegar e começou uma chuva pesada. Então ele saiu-se com o seguinte comentário, que mereceu o devido protesto da Dona Antonieta:
- “Antonieta, se esta chuva fosse de rapariga, eu ia destelhar a casa, com a tua ajuda, tapar todos os esgotos para enchê-la todinha de rapariga!”
CADÊ O TREM?
O Crato, por ser fim da linha férrea, tinha sempre às segundas feiras, além do trem normal, vindo de Fotaleza, um especial, vindo da Paraíba. Este era o que trazia a maioria dos feirantes para a grande feira livre, que ocupava todas as ruas centrais da cidade. Esta feira era tão importante que, quando coincidia com o sete de setembro numa segunda-feira, as comemorações relativas ao Dia da Independência eram antecipadas para o domingo. Não tinha feriado. Até os colégios funcionavam. O Chico Soares gostava muito de fazer ponto na Praça Francisco Sá, também conhecida como Praça da Estação ou Praça da Coluna da Hora. Ficava ouvindo o papo dos feirantes e participando das conversas. Foi lá que teve a oportunidade de ouvir, por parte de um deles, oriundo de Pernambuco e que, portanto, não usava o trem, fazer o seguinte comentário:
- "Mas rapaz, eu já vim ao Crato várias vezes e nunca vi um trem! Eu não conheço um trem!”
- “O que?!?! Um trem?!?! Tanto trem parado aí, no outro lado da estação e você nunca viu um trem?!”
Desfile de Sete de Setembro com a participação do Tiro de Guerra e dos Colégios. Nas segundas feiras essa rua (João Pessoa) e todas as demais do centro da cidade eram, literalmente, tomadas pela feira. Por isso que a comemoração era antecipada para o Domingo.
- “Não, nunca vi”.
O Chico Soares pegou o matuto pelo braço e disse:
- “Por isso não. Agora eu vou lhe mostrar um trem”.
Começou pelo vagão de segunda classe:
- Tá vendo aqui? Este é o vagão de segunda classe do trem. Está notando que os bancos são de madeira? Por isso a passagem é mais barata, para as pessoas pobres”.
E continuou:
- “Este é o vagão do trem para a primeira classe. Veja que os bancos são forrados, de couro. A passagem é mais cara”.
Em seguida entrou no restaurante:
Rua Dr. João Pessoa totalmente ocupada pela feira.
- “Olhe, aqui é o restaurante do trem. As pessoas que têm dinheiro comem aqui.”
E o matuto admirado:
- “E a comida?”
- “Tem a cozinha do trem, para atender ao restaurante do trem!”
Mais adiante mostrou o vagão bagageiro:
- “Neste vagão vão as malas maiores dos passageiros do trem”.
Por fim chegou à máquina:
- “Aqui é a máquina do trem”.
Belíssimo prédio da Estação onde o Chico foi mostrar o trem para o matuto.
E o matuto, percebendo que não tinha mais nada para mostrar:
- “Ah, é a máquina do trem? E ‘quedê’ o trem?”
MELHORAL RECICLÁVEL
Chico Soares contava uma estória de uma pessoa de uma família tradicional que era muito “mão fechada”. Assim são chamados, no Ceará, aqueles que são avarentos. Mas este era além da conta. Quando tinha dor de cabeça e era obrigado a tomar um Melhoral, fazia o seguinte: Amarrava um barbante no comprimido e engolia. Quando a dor de cabeça estava passando, ele puxava o Melhoral de volta, guardando para a próxima dor!...
Por: Ivens Mourão - Só no Crato
Na década de sessenta eram comuns os festivais de canção popular. O Crato, guardadas as devidas proporções, também organizou os seus festivais. Realizavam-se na quadra de esportes, próxima ao Hospital São Francisco. Nesta mesma época o Chico Soares resolveu fazer um empréstimo no Banco. O Gerente foi taxativo:
- “Para você eu não empresto. A não ser que tenha um avalista bom, eu empresto”.
- “Serve o Brigadeiro?”.
O gerente aceitou na hora e já preparou a letra para colher as assinaturas. O Brigadeiro era rico e dono de um grande patrimônio.
Lá se foi o Chico dar a “facada” no amigo. E o Brigadeiro:
- “Chico, eu não sei não. E esse Gerente te empresta?”
- “Com o seu aval ele empresta até o Banco todo!” ·
O Brigadeiro, coçando a cabeça, pensou: “Será que esse ‘fio duma égua’ vai pagar? Mas ele é meu amigo! Amigo é para ajudar aos outros. Eu vou arriscar”. E falou:
- “Me dá essa letra que eu assino!”
Chegou a data do vencimento e nada de pagamento. O Brigadeiro recebeu a primeira cobrança do Banco, mas pensou: “Vou dar mais uns dias. Ele deve pagar. Não vai fazer uma desfeita dessa com o amigo”
Diante da segunda cobrança, o Brigadeiro resolveu ir à Repartição, onde o Chico trabalhava. E numa sala bem comprida a sua mesa ficava lá nos fundos. O Brigadeiro, logo da porta, segurou a letra com as duas mãos, levantou-a bem alto e falou:
- “Chico, Chico é a letra que você não pagou e eu fui pagar lá no Banco. E aí?”
O Chico, com a cara mais lisa do mundo:
- “E ai? Ora Brigadeiro não é uma letra? Bota uma música nela que é capaz de você ganhar o festival de música, lá na quadra!!!”
O RICO
Uma das coisas que Chico Soares sabia fazer era declaração de imposto de renda. Por este serviço ele cobrava um determinado valor. Um dia surgiu a oportunidade de fazer a declaração de um grande industrial e homem rico de Orós. E o Chico pensou: “É agora que eu vou pegar num bom dinheiro!” Não quis nem que ele viesse ao Crato pegar a declaração. Ele mesmo foi a Orós. Ia pensando em cobrar um bom dinheiro. Ao avistá-lo, o industrial veio ao seu encontro. Agradeceu o favor que o Chico fizera e, ao mesmo tempo, enfiou no bolso da sua camisa uma nota. Quando o Chico, entusiasmado foi olhar o valor, era uma nota que, nos dias de hoje, valeria uns cinqüenta reais. A decepção foi grande. Pensou que ia se benzer e quebrou a testa. Comentou:
- “É Luisinho, o homem é sabido demais! Tinha que ser rico mesmo...”
NÃO IA MAIS SAIR DE LÁ
O Chico Soares também era um freqüentador do cabaré da Glorinha. Ia mais para bater papo. Um dia, estava com a esposa na Praça Siqueira Campos quando ia passando a Glorinha. Falou para ela:
- “Antonieta você não conhece a Glorinha, não é? Olha, é aquela ali. Aquela loura!”
- “Eu quero lá saber de rapariga! Respeite-me, Chico”.
- “É porque você nunca foi lá! Se você fosse, não ia mais querer sair de lá!”
A CHUVA
Um dia o Chico Soares ia saindo de casa com a esposa e percebeu que estava “bonito para chover”, como diz o cearense. Sugeriu, então:
- “Antonieta vamos voltar para casa que vai chover”.
Como de fato. Foi só chegar e começou uma chuva pesada. Então ele saiu-se com o seguinte comentário, que mereceu o devido protesto da Dona Antonieta:
- “Antonieta, se esta chuva fosse de rapariga, eu ia destelhar a casa, com a tua ajuda, tapar todos os esgotos para enchê-la todinha de rapariga!”
CADÊ O TREM?
O Crato, por ser fim da linha férrea, tinha sempre às segundas feiras, além do trem normal, vindo de Fotaleza, um especial, vindo da Paraíba. Este era o que trazia a maioria dos feirantes para a grande feira livre, que ocupava todas as ruas centrais da cidade. Esta feira era tão importante que, quando coincidia com o sete de setembro numa segunda-feira, as comemorações relativas ao Dia da Independência eram antecipadas para o domingo. Não tinha feriado. Até os colégios funcionavam. O Chico Soares gostava muito de fazer ponto na Praça Francisco Sá, também conhecida como Praça da Estação ou Praça da Coluna da Hora. Ficava ouvindo o papo dos feirantes e participando das conversas. Foi lá que teve a oportunidade de ouvir, por parte de um deles, oriundo de Pernambuco e que, portanto, não usava o trem, fazer o seguinte comentário:
- "Mas rapaz, eu já vim ao Crato várias vezes e nunca vi um trem! Eu não conheço um trem!”
- “O que?!?! Um trem?!?! Tanto trem parado aí, no outro lado da estação e você nunca viu um trem?!”
Desfile de Sete de Setembro com a participação do Tiro de Guerra e dos Colégios. Nas segundas feiras essa rua (João Pessoa) e todas as demais do centro da cidade eram, literalmente, tomadas pela feira. Por isso que a comemoração era antecipada para o Domingo.
- “Não, nunca vi”.
O Chico Soares pegou o matuto pelo braço e disse:
- “Por isso não. Agora eu vou lhe mostrar um trem”.
Começou pelo vagão de segunda classe:
- Tá vendo aqui? Este é o vagão de segunda classe do trem. Está notando que os bancos são de madeira? Por isso a passagem é mais barata, para as pessoas pobres”.
E continuou:
- “Este é o vagão do trem para a primeira classe. Veja que os bancos são forrados, de couro. A passagem é mais cara”.
Em seguida entrou no restaurante:
Rua Dr. João Pessoa totalmente ocupada pela feira.
- “Olhe, aqui é o restaurante do trem. As pessoas que têm dinheiro comem aqui.”
E o matuto admirado:
- “E a comida?”
- “Tem a cozinha do trem, para atender ao restaurante do trem!”
Mais adiante mostrou o vagão bagageiro:
- “Neste vagão vão as malas maiores dos passageiros do trem”.
Por fim chegou à máquina:
- “Aqui é a máquina do trem”.
Belíssimo prédio da Estação onde o Chico foi mostrar o trem para o matuto.
E o matuto, percebendo que não tinha mais nada para mostrar:
- “Ah, é a máquina do trem? E ‘quedê’ o trem?”
MELHORAL RECICLÁVEL
Chico Soares contava uma estória de uma pessoa de uma família tradicional que era muito “mão fechada”. Assim são chamados, no Ceará, aqueles que são avarentos. Mas este era além da conta. Quando tinha dor de cabeça e era obrigado a tomar um Melhoral, fazia o seguinte: Amarrava um barbante no comprimido e engolia. Quando a dor de cabeça estava passando, ele puxava o Melhoral de volta, guardando para a próxima dor!...
Por: Ivens Mourão - Só no Crato
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