Tuesday, January 4, 2011

Eric Voegelin e nós! - Por: Antonio Sávio



Muitas vezes fico pensando no impacto em nossa educação e cultura se nomes fundamentais da filosofia, da alta literatura, história, e das artes em gerais fossem ouvidos mesmo que por um espasmo. Nomes como Eric Voegelin, Mário Ferreira dos Santos, Xavier Zubire, Bernard Lornergan, Alfred Schütz, Von Mises, entre tantos outros são hoje fundamentais para a formação cultural de qualquer pessoa, além de, é claro, clássicos como Sócrates, Platão, Aristóteles etc., além da plêiade de filósofos medievais. A pergunta que cabe, portanto é a seguinte: pode alguma cultura por mais singular e valiosa que seja, ignorar tais personagens? A resposta é não! Pode qualquer sujeito que se diga minimamente “educado” (não confundir educação com informação) distorcer a realidade a tal ponto de achar que a cultura Ocidental os deve sua formação por mero “achismo”? Claro que não. A partir disso fica clara a situação que estamos. Não só caos comandado por fundamentalistas (no sentido voegeliniano) assim como remédios mortais para o que deveria ser a cura do paciente. Ao recusar encarar a realidade a solução se distancia a passos largos. Voegelin nos diz que estamos na idade das ideologias marcada profundamente pelo abandono da realidade e pela criação de uma segunda realidade, que nada mais é que a inversão de valores, o ódio à filosofia, a perda da consciência etc. Assim afirma: “O pensador ideológico cria uma linguagem para expressar não a realidade, mas sua alienação dela”. As contribuições de Voegelin, para ser mais específico são de grande valia para nós que estamos a sofrer um ataque sério do “cavalos de Tróia” inseridos em nossas universidades pagos para destruir o que deveria ser restituído em educação. Ao passo que o ambiente acadêmico mostra-se totalmente degradado, há a necessidade de inserir no “circuito intelectual” uma massa de ansiosos que não suportaram pensar que teriam que se dedicar um dia se quer ao estudo da arte que se pretende ser representante. Some-se a isso um jornalismo igualmente corrompido formado para proferir palavras fora da realidade e ideologicamente engajado na ocultação de fatos mais relevantes. A corrupção nestes moldes chega a tal ponto que chegamos onde tanto nos esforçamos: um dos países mais violentos do mundo e ao mesmo tempo com um dos piores índices educacionais. Essa fuga em massa da realidade não é privilégio nosso, de forma que ao relatar isso, Voegelin se referia a Áustria e Alemanha do seu tempo, mas, que claramente se aplica ao nosso caso: “Quando uma pessoa recusa viver na tensão para o fundamento, ou se se rebela contra o fundamento, recusando participar na realidade e, nesta linha, experienciar a sua própria realidade como homem, não é “o mundo” que é por esse meio alterado, mas é antes ela que perde o contato com a realidade e na sua própria pessoa sofre uma perda de realidade. (...) Vive então numa "realidade segunda" (realidade sem realidade)

...colocando o ego autônomo no lugar do fundamento. Os efeitos da perda da realidade são distúrbios pneumatológicos (espirituais) na ordem existencial da respectiva pessoa e, se a vida na “realidade segunda” se tornar socialmente dominante, tais distúrbios massivo da ordem social, podem tornar-se tal como nós testemunhamos”. (VOEGELIN, Eric. A consciência do fundamento. Tradução de José M. S. Rosa. p.31. Lusofonia).

Assim, fica fácil a entrada do que quer que seja em nosso meio social. Depois de todo o sistema estar drasticamente mudado, aparecem ateus militantes, comunistas, socialistas, e tantos “istas”, cada um com sua receita para humanidade numa misosofia (ódio, ou terror a realidade) sem fim. A substituição de ações reais seja por ideologias de direita ou esquerda tem acontecimentos trágicos na história e nenhum deles deixou de ser feito sem antes acontecer uma corrupção dos princípios de uma sociedade e da corrupção cultural como acontece exatamente agora. Depois que convidou o inimigo para entrar, não reclame do roubo.

Por: Antonio Sávio

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