Amarílio Carvalho Nobre nasceu na casa 44 da Rua da Pedra Lavrada ( Pedro II ), aos 16 dias do mês de julho do ano de 1922. Filho de Clovis Carvalho e Virginia Nobre de Carvalho. Estudou só até o curso primário ( hoje ensino fundamental ) no Grupo Escolar do Crato ( atualmente Escola de 1º Grau Dom Quintino ). Foi um dos fundadores do grupo teatral de amadores cratenses. Dentre suas atividades profissionais está a de operador de cinema, trabalhando na cabine do Cine Cassino, exerceu também a profissão de tipógrafo na Tipografia Imperial, passando para as oficinas da Gazeta do Cariri, Jornal Ação, Tipografia e Papelaria Cariri. Foi colaborador com seus artigos nos jornais locais “Semanário Ecos da Semana” e “Revista Região”, ambos sob a direção do jornalista, Osvaldo Alves de Sousa, alem de suas participações em jornais do Sul do País. Nos anos 50 a 60 foi correspondente da Revista Panorama de Fortaleza, editada pelo jornalista Aloísio Bonavides. Na mesma época exerceu as mesmas funções no jornal O POVO, de Fortaleza e no Jornal do Comercio, de Recife. Tem trabalhos publicados no boletim informativo da Universidade Regional do Cariri, nas revistas Itaytera e A Província.
Amarílio Carvalho sempre foi amante das letras e dos passa-tempos culturais. Um defensor ferrenho do esporte. Foi fundador do clube de futebol “Cruzeiro Futebol Clube” e se notabilizou como introdutor do futebol de salão no Crato, chegando a criar a Liga Cratense de Esportes Amadores como mentora dos primeiros campeonatos locais da modalidade. Homem simples, modesto, sem alardes dos irrecusáveis méritos que possui, honra lhe seja dada, sobretudo pela intensa e preciosa folha de serviços prestados e que ainda vem prestando a terra de seu berço. Hoje, do topo de seus 90 anos de idade, lúcido, inteligente e com uma linha de raciocínio de fazer inveja, Amarílio Carvalho Nobre recebeu a reportagem do Jornal do Cariri na sua residência localizada na Rua Araripe 168, centro do Crato. Saímos da entrevista com a certeza que a providencia divina tem caminhos que nós não conhecemos.
WR - Por que o senhor parou de estudar ainda tão jovem?
AC – Parei de estudar por conta e riscos próprios, mas nunca deixei de lado a curiosidade da leitura e nunca me afastei das letras. Deus foi muito generoso comigo porque, logo que sai da escola, fui trabalhar na Tipografia Imperial na função de compositor gráfico, fazendo a seleção de letras na formação das palavras e isto foi muito importante para o aprimoramento dos meus conhecimentos. Foi no desempenhar desta atividade que aprendi a escrever. Eu queria aprender inglês, mas não queria ir a uma escola especifica. Na época, a Escola Técnica do Comercio ( atualmente externato 5 de julho ), havia um dos mais avançados cursos do gênero, ai resolvi assistir as aulas não como aluno e sim, como ouvinte. Eu ficava de longe escutando as explicações do professor e ia mentalizando tudo e assim aprendi algumas palavras do idioma.
WR - O senhor disse que é apaixonado pelo jornalismo. A função de compositor gráfico contribuiu para com o nascimento desta paixão?
AC – Sim, sempre que eu formava uma palavra era como se fosse uma sementinha semeada dentro de mim onde algo me dizia: um dia escreverei textos para serem publicados nos grandes jornais do País. Ao mesmo tempo achava aquele sonho extremamente impossível de ser realizado por não conhecer ninguém de jornais de grande porte. Mas, 1985, nas minhas andanças a São Paulo para visitar alguns familiares, conheci os jornalistas do jornal “Nas Bancas” que publicaram um artigo meu intitulado “Chega de Inovação em Matéria de Ensino”, onde eu fiz um comparativo entre a modernidade da época e o cafona no que se refere a arte pedagógica. Foi a maior emoção da minha vida em ver aquele jornal com palavras escritas por mim.
WR – Como cratense, qual foi a melhor época política, social, cultural e econômica do Crato que o senhor destacaria?
AC – Eu nasci em 1922, até o ano de 1980, em minha opinião o Crato viveu os seus melhores momentos. Não se falava em drogas, trafico, pedofilia, corrupção, criminalidade e AIDS. No âmbito político a democracia falava mais alto, era mais respeitada. Na economia, o município tinha muitas indústrias com geração de emprego a toda hora. Uma agricultura equilibrada com produção de algodão, mandioca, milho, feijão, arroz em abundancia. Na cultura, a juventude da época apreciava os teatros, os cinemas, as musicas de qualidade, as livrarias e sebos eram cheias de gente comprando livros, os jornais que chegavam às bancas eram todos vendidos. Um cenário muito diferente dos dias atuais.
WR - O senhor sempre foi um homem defensor das coisas do Crato. Por que nunca quis ser político?
AC – Olha, uma vez me convidaram para me filiar a um partido político do município, mas não aceitei por acreditar que o homem não precisa militar na vida publica para ajudar no crescimento de sua cidade. Sinto que nunca tive vocação para a política e nem sequer, nunca escrevi nada sobre tal tema. Participo do processo como mero eleitor e nunca deixei de votar.
WR – Quais são suas paixões, suas preferências?
AC – Gosto muito da literatura de cordel, inclusive já escrevi alguns versos, porem a minha primeira paixão, e sei que essa vai comigo até a minha ultima viagem, é o Vasco da Gama do Rio de Janeiro. Sou torcedor fervoroso e defensor do meu cruzmaltino. Outros amores da minha vida são cinema, teatro, esportes e musicas. Sou fã incondicional de Orlando Silva, Aracy de Almeida, Elvis Presley e Vanderlea. Guardo com carinho e bastante zelo em meus arquivos alguns discos de vinil de meus ídolos.
WR – Como homem defensor da cultura e dos bons costumes, o que está acontecendo hoje no Crato que lhe causa decepção?
AC – Estou decepcionado com a troca desnecessária dos nomes primitivos das ruas do Crato. Eles poderiam ser mantidos pelo simples fato de fazerem parte da historia da cidade. Essas novas denominações deveriam ser dadas as ruas que fossem surgindo subseqüentemente com o crescimento urbanístico. Mas o que estão fazendo é uma agressão ao nosso patrimônio histórico. O pior de tudo é saber que as instituições de ensino são omissas e que de braços cruzados vêm acontecer todo esse desmoronamento cultural e nada fazem ou se posicionam contra ou a favor. A maioria dos cratenses não sabe que a Rua Pedro II foi um dia chamada de Pedra Lavrada. A Nelson Alencar, Rua da Boa Vista, a Senador Pompeu era a Rua do Fogo, a Rua Tristão Gonçalves chamava-se Rua da Vala, a Rua Formosa é hoje a Santos Dumont, a Rua das Flores é atualmente a Dom Quintino, Rua das Laranjeiras é hoje a José Carvalho, a Barbara de Alencar era a Travessa Califórnia e a Rua da Misericórdia é hoje a Diógenes Frazão, que nem eu mesmo sei quem foi esse cidadão. A meu ver isto é mau para as futuras gerações. Nada aqui estou falando contra os homenageados, cujos nomes substituíram os antigos, não, nada disto. Por exemplo, Santo Dumont merece ter uma Rua com seu nome, ele foi o pai da aviação.
WR – Qual foi a sua maior alegria?
AC – A minha maior alegria foi Deus ter me concedido a vida e me permitido vivê-la até os dias atuais em perfeita lucidez nos meus 90 anos de idade. Quero lhe dizer que, na minha trajetória de vida construir um patrimônio que não há dinheiro que compre. É um bem que está no meu coração. Refiro-me aos meus amigos, os quais eu homenageio em uma estrofe do meu mais recente cordel intitulado “Miscelânea em Prosa e Verso”. Amizade verdadeira/Tem suas raízes no chão/É arvore, é madeira/E adoça o coração.
Por: Wilson Rodrigues
Radialista/Repórter
Colaborador do Blog do Crato e Portal Chapada do Araripe
Foto: Dihelson Mendonça
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