Thursday, May 24, 2012

Peças arqueológicas são achadas em sítio no Crato


O acervo pode esclarecer as origens dos primeiros habitantes do Cariri e também do Nordeste

Crato. Material arqueológico foi encontrado no Cariri e as peças ainda não foram identificadas por estudiosos. A hipótese é que tenha pertencido a povoamentos indígenas, que já havia tido contato com a civilização. No local onde a peça foi achada, no Sítio São Bento, no Crato, funciona uma extração de areia para construção civil, de onde são retiradas por dia cerca de 40 carradas de terra.

No local onde foi encontrada uma peça, que mais de assemelha a um prato de argila, e pequenos pedaços de ossos, também foi vista uma espécie de urna mortuária usada pelos índios. Mas essa que poderia ser a peça mais rara, com ossos, chegou a ser quebrada no momento em que um dos trabalhadores fazia as escavações, a dois metros de profundidade, para a retirada de areia. Há possibilidade de que o material tenha pertencido a tribos de índios Cariri. Um dos carregadores de arreia, que há vários anos trabalha no local, viu o material e decidiu guardar para repassar a uma instituição que possa resguardar as peças. Ele não quis se identificar, achando que poderia se prejudicar. É que uma das áreas próximas ao local chegou a ficar interditada por dois anos, em virtude de achados arqueológicos na área, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A liberação da área só veio depois de estudos e monitoramento, autorizado pelo órgão e coordenado pela arqueóloga Rosiane Limaverde, da Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri. A instituição recebeu a denominação, em 2009, pelo Iphan, de Casa do Patrimônio da Chapada do Araripe, que realiza um trabalho de educação patrimonial na região. Além do monitoramento, feito pela Fundação, foi realizado um trabalho educativo junto à comunidade. Alunos de escolas públicas chegaram a visitar as escavações.

O local onde foi encontrada a peça é um dos únicos na região onde funciona retirada de areia autorizada pela Semace. Depois da liberação do espaço interditado, voltou a ser explorada. Os trabalhadores temem que haja outra interdição, e as pessoas não possam trabalhar. E o medo pode levar com que muitas dessas peças cheguem a desaparecer, sem uma identificação e um estudo específico. E para isso, o diretor da Fundação Casa Grande, Alemberg Quindins, faz o alerta em relação a um trabalho de conscientização dos moradores quanto à importância desse material, onde estão contidos dados que podem esclarecer as origens dos primeiros habitantes do Cariri e do Nordeste. "São as nossas origens. Devem ter o registro de patrimônio histórico do Cariri", afirma.

Por enquanto, as peças encontradas estão com o motorista e ele pretende doar o material para salvaguarda. O pessoal que trabalhava na área não deixou que ele pegasse a outra parte dos achados, que era a urna de pelo menos 80 centímetros de altura e continha vários ossos, provavelmente de criança. Um deles, um fêmur de quase 30 centímetros. Enterraram tudo novamente, inclusive os pedaços da peça que continha o material. O que restou foi o prato de barro. O motorista chegou a lavar a peça arqueológica, mas afirma que não esfregou. Alguns detalhes como as listas, que ele considera tribais, estão gravados na borda e não chegaram a ser apagados.

Ano passado, material em argila pertencente a povoamentos indígenas também foram encontrados em Caririaçu. O que poderia comprovar a formação de povoamentos no Município. As peças foram encontradas durante a realização de uma obra na cidade. O material chegou a se examinado pela pesquisadora Rosiane Limaverde, que junto ao trabalho da Casa Grande, já chegou a identificar na região cerca de 20 sítios arqueológicos. A partir do já identificado, ela acredita que os aldeamentos cerâmicos ocorriam no sopé da Chapada do Araripe até o sertão dos Inhamuns.

Segundo a arqueóloga, era nas áreas mais altas que os índios procuravam abrigo mais seguro, principalmente para se protegerem das inundações. Também eram os locais mais próximos das fontes de água. Com isso, foram formados vários núcleos de aldeia. São áreas a mais de 600 metros de altitude. O material que ficou nas áreas baixas, acabou sendo arrastado pelas enxurradas. Rosiane diz que para se realizar uma classificação das peças, a que grupos pertenceu o material, é necessário um estudo mais aprofundado. O São Bento é uma área de baixio, com rio.

O achado terá que se r comunicado e notificado pelo Iphan e entregue à instituição que classifique, registre e o reguarde, ou no caso procurar uma instituição de pesquisa responsável na região por esse tipo de material, para maiores esclarecimentos. A reportagem entrou em contato com o Iphan, em Fortaleza, mas a arqueóloga responsável não estava no órgão, para esclarecer sobre os procedimentos a serem tomados pelo órgão a partir de agora com as peças e o local do acervo.

Mais informações

Secretaria da Fundação Casa Grande, Memorial do Homem Kariri
Rua Ratisbona, 564, Centro
Crato - Cariri
Telefone: (88) 3521.8133

ELIZÂNGELA SANTOS
Repórter do Jornal Diário do Nordeste
Colaboradora do Blog do Crato e Chapada do Araripe
Na foto: Rosiane Limaverde ( Ilustração )

No comments:

Post a Comment