“– A liberdade, Sancho, é um dos mais preciosos dons que os céus deram aos homens; com ela não se podem igualar os tesouros que encerra a terra nem o mar encobre; pela liberdade assim como pela honra, se pode e deve aventurar a vida, e, pelo contrário, o cativeiro é o maior mal que pode vir aos homens”. – Miguel Cervantes, “Dom Quixote de La Mancha”.
Um livro que deveria ser lido por todos, esse “Viagem ao Crepúsculo”, (2ª edição) escrito por Samarone Lima, 42, jornalista e escritor, nascido em Crato e hoje residente em Recife (foto ao lado).
Li-o, emprestado que me foi pelo pai do escritor, o ex-craque de futebol de salão dos anos 60 em Crato, José Vicente Lima, hoje aposentado do Banco do Brasil. O livro mostra o cotidiano da população cubana, uma realidade vivenciada por Samarone Lima. Este, conheceu a vida real da infelicitada população da ilha-cárcere, pois, ao invés de percorrer itinerários pré-estabelecidos pela ditadura da dinastia dos Castros – roteiros falsos, enganosos e manipulados – preferiu ficar hospedado em residências de cubanos anônimos.
Com isso ganhou a confiança dessas pessoas. E constatou a triste realidade social e econômica de Cuba, onde as pessoas, para sobreviver, vendem e compram – no mercado negro – gêneros alimentícios desviados dos armazéns e hospitais do Estado. Até para fazer uma curta viagem – de ônibus ou trem – a população cubana é vítima da máfia na venda das passagens. Os bilhetes de viagem são ofertados, pela máquina estatal, com grande antecedência, todos pré-datados, para serem utilizados semanas e até meses à frente.
Interessante que Samarone Lima viajou a Cuba levando a ilusão que é vendida ao imaginário dos turistas: a de que, naquela ilha da fantasia, a saúde e a educação pública funcionam; impera a igualdade social; não existem nem fome, nem violência, nem corrupção na máquina administrativa. “Todas, absolutamente todas as pessoas que me relataram viagem a Cuba como turista, falam de outro país, onde há conforto, bons carros, comida farta, mulheres, charutos, rum. Esse é o mundo do turismo, não o mundo real”, constatou Samarone. A realidade que ele viu lá foi exatamente o contrário do que falam por aqui.
Numa fila para a compra de alimentos, ele presenciou esta cena e escreveu: “Jaime (um cubano em cuja casa Samarone se hospedou nos primeiros dias em Havana) entregou sua caderneta de controle e comprou dois pacotes de macarrão, meio libra de arroz (que dá menos de um quilo). Neste dia não havia óleo vegetal para venda. Comprou ainda 250 gramas de carne de soja. Era a sua cota mensal”. Na fila de compra, o escritor cratense ouviu: “Quando esse inferno vai acabar?”. A declaração aspeada é de uma senhora cubana, logo após uma tentativa frustrada de adquirir sua cota mensal de carne de porco, já que a carne de gado não existe para o consumo da população.
No livro “Viagem ao Crepúsculo” (226 páginas), o autor descreve a violência que domina as ruas de Havana (ninguém lá fala disso, a não ser do que acontece no bairro onde mora, pois a imprensa estatal só divulga falácias favoráveis ao regime); fala da miséria que domina as camadas sociais, onde a prostituição é negócio rendoso; descreve diálogos com jovens que sonham em fugir de Cuba; da corrupção generalizada em todos os setores da máquina pública e da falta – ampla, geral e irrestrita – das liberdades democráticas.
Na sua obra, Samarone conseguiu descrever os efeitos dos 53 anos de um regime que há muito perdeu as rédeas do rumo a ser tomado. “Os cubanos não são livres. Não podem sair do país. Não podem criticar o regime na fila do pão, sob o risco de serem rapidamente presos pelos infiltrados, e condenados a 20, 30 anos de prisão, após julgamentos rápidos”, diz o autor cearense.
Escrito e postado por Armando Lopes Rafael
Informação: O livro de Samarone pode ser adquirido em qualquer
filial da Livraria Cultura.
Em Fortaleza ela funciona no Shopping Varanda Mall
Av. Dom Luís, 1010 - Lojas 8,9 e 10
Meireles - Fortaleza - CE
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