O sonho da casa própria ainda não virou realidade para a agente de endemias Luciana Soares de Sousa, 34, e a cada dia essa perspectiva mingua mais. Luciana foi uma das 90 mil pessoas que se inscreveram no programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV 1) em 2009, na Habitafor, mas até agora ainda não foi contemplada. A renda mensal da agente não chega a dois salários míninos, por isso continua a morar com a mãe e o padastro, ambos aposentados, em uma casa no Parque Dois Irmãos.
" Sinceramente, não tenho mais esperança de receber essa casa. Já se passaram três anos e nada. Acho um desrespeito e descaso com a população de baixa renda que, encontrou nesse Programa, uma forma de melhorar de vida e realizar o sonho da casa própria", fala. A situação não foi diferente para Ediuto Barros, 38 anos. O agente de saúde fez seu cadastro no Minha Casa, Minha Vida no segundo dia de inscrição na Habitafor e, após mais de três anos, ainda espera pela casa de seus sonhos."Sinceramente, me sinto enganado e não acredito mais que irei receber essa casa um dia", lamenta.
Ediuto recebe um salário mínimo por mês e mora de aluguel há 13 anos. Com o projeto do MCMV, ele viu uma oportunidade de realizar o sonho da casa própria e sair do aluguel. "Fiquei bastante empolgado com o programa, providencie toda a documentação, mas ainda hoje, continuo pagando R$ 225 de aluguel todo mês. Esse descaso, tem ameaçado meus planos de casar e formar uma família. Como vou assumir uma pessoa e filhos, se não tenho não tenho condições de oferecer um lar digno?", desabafa o agente.
Espera sem fim
Noventa mil famílias residentes em Fortaleza se inscreveram no programa habitacional “Minha Casa, Minha Vida 1” (MCMV), em 2009, pela Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza (Habitafor), mas, até agora, apenas 352 famílias receberam as casas. De acordo com a Habitafor, até o final de 2012, outras 606 famílias serão beneficiadas com as novas residências. Apesar do número ser superior ao entregue em 2011 (352 unidades), a quantidade ainda está abaixo da expectativa anunciada no início do processo pela Caixa Econômica Federal (CEF), que era de 15 mil unidades para o Estado e 2.920 para a capital. Dessas, apenas 956 apartamentos serão entregues às famílias de Fortaleza, até o fim de 2012, pela Habitafor, quantidade equivalente à apenas 33% do total prometido.
De acordo com o presidente da Habitafor, Roberto Gomes, o déficit habitacional da capital cearense é de 75 mil pessoas - dados do IBGE de 2002 - e, a procura foi bem superior a esse número. "É impossível, em um período curto, resolver esse déficit. Esse é um trabalho de médio a longo prazo", explica.
Outro ponto destacado pela Habitafor é que nem todos os 90 mil inscritos estão aptos a receber o imóvel, pois os inscritos devem se enquadrar nos requisitos: renda mensal de zero a três salários mínimos e não ter sido contemplado por nenhum outro programa do Estado ou Município. Em março deste ano, a Habitafor havia informado que quatro conjuntos residenciais seriam entregues até maio, em Fortaleza, porém a realidade é outra. Conforme o presidente da Fundação, o condomínio Monte Líbano, no bairro José Walter, que atenderá a 256 famílias, e o Independência, na Granja Lisboa, que atenderá 168 famílias, serão entregues até 15 de junho. Já o residencial São Bernardo, no Itaperi, que beneficiará 180 cadastrados, está previsto para ser entregue até o final de 2012 e, o Condomínio São Domingos, na Messejana, com 120 unidades, será entregue, somente em 2013.
Gomes explicou que, durante as gestões municipais anteriores ao atual mandato, foram entregues 12 mil unidades habitacionais e, nesses oito anos de gestão da prefeita Luizianne Lins, a expectativa é entregar seis mil e deixar outras 12 mil unidades contratadas. "O que foi feito em 18 anos, conseguimos, em oito, quase igualar", falou o presidente.
Entretanto, o que foi feito, ainda não é suficente. Várias famílias não conseguiram realizar o sonho da casa própria e, segundo Gomes, essas pessoas continuarão no cadastro e serão beneficiadas na medida que a política habitacional for ampliada.
O foco da análise do cadastro dos inscritos no Programa está associado à classe social mais baixa, com remuneração mensal de zero a três salário mínimos; estar morando próximo ao conjunto habitacional entregue; possuir maior número de pessoas por família; ter mulheres como chefes de família; e, possuir idosos e/ou pessoas com deficiência na família.
Terrenos doados
De acordo com a Habitafor, a Prefeitura de Fortaleza doará cinco terrenos às construtoras interessadas em construir empreendimentos para o Minha Casa, Minha Vida. "A Câmara já autorizou a doação dos terrenos da Prefeitura para as construtoras. A Prefeitura, por sua vez, está em fase final da elaboração de um edital de chamamento público para que as construtoras apresentem seus projetos e recebam os terrenos. Esperamos que, ainda nesse semestre, ocorra a abertura do edital", explicou o presidente da Fundação.
Sonho realizado
Aqueles que tiveram a 'sorte' ou o privilégio de receber suas moradias pelo MCMV 1 só têm a agradecer. Foi o que aconteceu com a costureira, Hosana Sales Barroso de 39 anos, que mora atualmente no Residencial Santo Agostostinho, localizado na Barra do Ceará e entregue em 30 de novembro de 2011 a 232 famílias. "Hoje eu moro no céu, quando comparo com minha antiga residência. Aqui, o ambiente é limpo, seguro, as pessoas estão se reeducando para conviver melhor e temos tudo o que precisamos como escola pública, posto de saúde e delegacia bem pertinho", comemora.
Esse é o mesmo sentimento vivido por duas moradoras do Residencial Turmalina, no bairro Vila Velha, entregue em 17 de junho de 2011 a 120 famílias. Para a doméstica, Maria Célia Sousa, 48, que mora com sua filha e neta, a satisfação é enorme. "Eu morava antes em um abrigo e hoje ter a minha casa, a minha privacidade e ver a felicidade da minha família, não tem preço", fala Célia.
Já a vendedora Demarciele Santos Barreto, 29, que morava de aluguel e pagava mensalmente R$ 250, o MCMV 1 foi um presente de Deus em sua vida. "Pago atualmente R$ 54 por mês e, daqui há 10 anos, esse imóvel será meu. Quando morava de aluguel nunca teria uma casa como minha. Hoje, eu, meu esposo e meus 3 filhos, moramos em um local seguro e feliz", celebra Demarciele.
Kellyane Pinheiro - ( Portal Verdes Mares )
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