Wednesday, September 29, 2010

Viver é preciso – Por Carlos Eduardo Esmeraldo.


“Navigare necesse: vivere non est necesse.”

Contrariando o general romano Pompeu Magnus, que viveu mais de meio século antes de Cristo e, derramou o seu latim com essa frase dita aos marinheiros que durante as guerras de conquista, tinham medo de entrar no mar para levá-lo à ilha da Sicilia, eu sinto que viver é preciso. Mesmo que para tanto, eu tenha que construir "pontes" e pavimentar novos caminhos. Somente é possível navegar, se houver vida. Mas viver, “não para gozar a vida, mas para engrandecê-la a serviço da evolução da humanidade", como diria o genial poeta português Fernando Pessoa. Viver nesse “vale de lágrimas” é bom demais e ninguém quer morrer. Todos pensam que a morte somente acontece aos outros. Mas poderemos adiar o nosso encontro definitivo com Deus.

A propósito desse assunto, ouvi muitas pessoas dizerem que cada um já nasce com o dia de sua morte marcado. Eu mesmo, durante muito tempo, acreditei nisso. Mas apesar das muitas surpresas que a vida nos reserva, hoje não penso mais assim. Por isso, valho-me de todos os meios que a medicina nos oferece para prolongar esta caminhada pelas estradas da vida, dom maravilhoso de Deus.

Outro dia ouvi de um dos defensores da tese do dia marcado, uma história interessante, que aqui deixo registrada para encerrar essa pequena reflexão, procurando alegrar os ânimos, quando nada, pelo menos o meu próprio estado de espírito.

Certo dia, ao despertar, um jovem de vinte anos ouviu a campainha de sua casa tocar e foi abrir a porta. Surpreendeu-se com a velhinha da foice, bastante autoritária, dizendo-lhe que aquele era o dia marcado para ele ir embora. Tentou argumentar, vivera tão pouco, o carnaval estava próximo. Pelo menos que ela o deixasse brincar seu último carnaval, implorou. A velhinha resolveu ligar seu celular e falar com o Superior lá de cima, pedindo a concessão de um prazo de 30 dias. Pedido atendido, como que por encanto, ela sumiu de sua frente. O rapaz pulou de alegria e pensou que na nova data ele iria driblar a velha Dona Morte pela segunda vez.

Na véspera do dia marcado, foi ao cabeleireiro e ordenou que raspasse toda sua vasta cabeleira à navalha. A cabeça ficou lizinha que dava gosto. No dia marcado, a Dona Morte foi a casa dele e alguém lhe informou que ele se encontrava num clube próximo. Então ela o procurou no meio da multidão que lotava os salões do clube, sem, contudo encontrá-lo. Olhou para um lado, para outro e afinal exclamou para si mesma. “É! O cara não está aqui não! Mas para não perder a viagem, eu vou levar aquele carequinha ali do meio, pois hoje é o dia dele”.

Pois é, esse nosso encontro fatal poderá ser adiado. Por via das dúvidas, eu estou até pensando em raspar a cabeça.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

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