Sunday, August 1, 2010

Samuel Araripe relembra o Crato Tênis Clube de Outrora


Falar sobre o Crato Tênis Clube é falar e lembrar de uma das melhores fases da minha vida. Como cratense que sou, nascido em 1954, posso dizer que pude alcançar o auge daquele clube, quando ainda bastante jovem, frequentava o Crato Tênis Clube para praticar natação. Naquele tempo, os nossos colegas que estudavam no Colégio Diocesano e no São João Bosco, aos sábados e Domingos, iam ao Crato Tênis Clube para praticar esportes, e dentre eles, natação. Eu vivi os melhores momentos naquele local, na década de sessenta, quando havia uma integração imensa entre a Exposição do Crato e o Tênis Clube. As festas naquele tempo, não eram realizadas no parque de exposições como hoje se faz. Normalmente, ficávamos na Expocrato durante o dia, e somente a partir das 22h, íamos ao Crato Tênis Clube para participar de festas extraordinárias, com atrações do Brasil inteiro, que perduravam durante toda a noite, e terminavam por volta das 4 horas da manhã.

A bem da verdade, o Crato Tênis Clube marcou toda uma época de festas na cidade de Crato, dentre elas podemos citar também os Réveillons, onde toda a sociedade cratense se reunia para romper o ano nesse maravilhoso clube. Uma curiosidade interessante é que nós íamos de paletó e gravata, e até meia-noite tocavam musica dançante; Porém, após a passagem do ano, nós tirávamos o paletó e a gravata, e aí se iniciava um excelente carnaval que ia até o amanhecer.

O carnaval do Crato naquele tempo, era bastante conhecido em todo o Ceará, porque não havia carnaval nas praias, então freqüentemente, os nossos amigos e parentes vinham de Fortaleza e de outras cidades do Ceará para festejar o Carnaval no Crato. E era muito bom, porque pela manhã aconteciam as matinês para as crianças, em que nós que já éramos adolescentes, ficávamos no entorno do salão principal, aquele que hoje achamos pequeno, apesar de antigamente não existir o salão coberto, mas que na época era suficientemente grande para confortar todos os brincantes; À noite, com toda animação, acontecia o Carnaval dos adultos. Nós participávamos de ambos. Desde a minha infância, era costume pularmos carnaval já a partir da terça-feira, ( eu acho ), e seguindo os outros dias, descíamos até a praça Siqueira Campos para o encerrar da noitada.

Uma lembrança que guardo comigo e que considero importante sobre o Tênis Clube, foi um concurso de beleza em que a “Franci”, que era cratense, e que já tinha ganho o concurso Miss Estado do Ceará, também ganhou o terceiro lugar no concurso de Miss Brasil. E recordo que foi lá no Crato Tênis Clube, em que toda sociedade cratense se reuniu, com um rádio em cima da mesa, para torcer e acompanhar o resultado do concurso. E quando saiu o resultado foi uma festa total, por que tudo no Crato Tênis Clube acabava em uma grande festa. O CTC era ponto de encontro onde todos os amigos se reuniam para a diversão total, e eu não perdia: Aos 13 anos eu fui morar em Brasília, acompanhando meu pai Ossian de Alencar Araripe, recém eleito a Deputado Federal, porém eu não trocava as minhas férias para ir a nenhum outro lugar, fossem em Dezembro, Janeiro, Fevereiro (Carnaval) ou em Julho, por conta da festa de Exposição, eu sempre retornava ao Crato, juntamente com meus irmãos, primos e todo um conjunto de amigos que prezo até hoje. Por que eu não trocava essa cidade do Crato por nada desse mundo! Às vezes, meus pais queriam ir à Fortaleza visitar meus avós paternos, e eu preferia vir ao Crato ( para o estranhamento deles ), especialmente para rever os amigos e sairmos juntos para as tertúlias e as festas do Crato Tênis Clube.

Lembro-me de muitos fatos pitorescos ocorridos no CTC:

No carnaval, havia o carnaval dos blocos, que por sinal, estes eram em grande quantidade. Quando criança, eu participei somente das matinês, mas após os 14 anos, pela manhã, nós dividíamos o dia da seguinte maneira: Acompanhávamos o Carnaval das Crianças ( e aí nós não íamos fantasiados); À tarde nós íamos para o carnaval de rua, que nós chamávamos de “Poço” onde passeando pela cidade, os carros jogavam baldes de água e maisena nas pessoas que passavam, e a gente ficava na rua brincando até as 20:00h, e às 22:00 nós retornávamos para a folia no Crato Tênis Clube. O nosso bloco chamava-se Taxi Fone, e um amigo nosso queria usar um macacão, e a costureira errou nas medidas, ficando apertado. Nem para se mover direito, ele conseguia. Isso foi motivo de piada entre os amigos, porque as pessoas colocavam-no no centro da roda de amigos e mandavam ele levantar os braços e ele não conseguia fazê-lo, até que ao final da noite, o macacão rasgou todo, e foi uma verdadeira algazarra. Resultado: o rapaz acabou sem querer virando atração desta festa no Crato Tênis Clube. Porém, tudo era brincadeira, tudo era diversão num carnaval sadio. As festas no CTC eram recheadas de momentos únicos de alegria e de divertimento, por que os eventos de 1965 até 1975 eram um espetáculo. Quem não se lembra daquelas clássicas “puladas de muro” que muitos de nós fazíamos ? ( os mais afoitos ). Aliás, se fôssemos nos alongar em contar esses inúmeros casos, tomaríamos o livro inteiro...

Lamentavelmente, nos carnavais dos dias atuais não existem mais mesas com cadeiras, ou uma grande orquestra tocando, etc...No período da gestão do nosso amigo Duda no CTC, acontecia o saudoso Baile das Debutantes, ou seja, a transição das garotas para moças e a apresentação delas à sociedade. Esse era um momento preciosíssimo para as famílias da sociedade do Cariri, e as moças tinham uma grande festa, com artistas famosos para dançar a valsa.

No futebol de salão, por exemplo, o clube também se destacou, só que eu particularmente era somente um expectador. Lembro que todo fim de semana, logo cedo quando chegávamos, nos deparávamos com um ambiente totalmente voltado para a diversão da família, principalmente pelo esporte: Crianças praticando natação, futsal, jogando “Spyriball”, voley-ball... era um ambiente aprazível e muito movimentado.

Ao meu ver, com o passar dos anos, e a criação de casas de veraneios, sítios, resorts, e as danceterias, acabaram tomando esse espaço dos clubes. Essa realidade é notória em todos os lugares do país. Clubes como AABB de Fortaleza, Náutico Clube, Ideal, Líbano brasileiro, Massapê (que acabou), enfrentaram e enfrentam dificuldades. Feliz de quem vivenciou como nós, aquela época. E o que falta nos dias atuais no Crato Tênis clube, é a nostalgia dos tempos antigos. Vejo com muito bons olhos essas tentativas felizes de relembrarmos aqueles tempos, através de festas como o já famoso CARNAVAL DA SAUDADE, ou com lançamentos de livros, etc. São eventos que conseguem trazer o espírito de uma época que está em todos nós. Então, o que falta, talvez, seja um pouco de criatividade, de levar para o clube festividades que mexam com o povo, por que a juventude atual é diferente de outros tempos. Naquela época não havia a violência que vemos hoje, as drogas que assolam os lares do mundo, a inadimplência nas mensalidades dos sócios, etc.


Então, em suma, lembrar sobre esses tempos áureos porque toda a sociedade cratense atravessou, quando frequentava o Crato Tênis Clube, é imergir num passado longínquo de muita nostalgia, das primeiras namoradas, das descobertas, e do partilhar da vida em sociedade. Tenho por mim que o ser humano jamais será completo se não tiver dentro dele, uma base sólida de sustentação da personalidade, e isso se consolida na infância e na adolescência. Nesse ponto reside o papel fundamental da vida em sociedade que tanto, o Crato Tênis Clube têve para a formação de inúmeros jovens, que como nós, compartilhamos de experiências, de alegrias, e de uma juventude sadia, brotada no seio de uma sociedade de engrandecimento da cultura, de elegância e sobretudo, de muito respeito à pessoa humana. Esses últimos são, possivelmente os maiores legados imateriais que podemos resgatar da história do Crato Tênis Clube, e o que ficará para sempre para as futuras gerações.

Por: Samuel Araripe

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