Incêndio destruiu 30 hectares de cana e banana de 12 pequenos proprietários rurais do Sítio Riacho Seco, localizado no Município de Missão Velha - ANTÔNIO VICELMO.No Ceará, já são mais de 200 focos de incêndios registrados pelo INPE, de janeiro até esta primeira quinzena.
Missão Velha. Um incêndio destruiu 30 hectares de cana e banana de 12 pequenos proprietários rurais do Sítio Riacho Seco, neste Município. O prejuízo gira em torno de R$ 100 mil. Com dívidas a pagar junto à rede bancária, os proprietários estão "com as mãos na cabeça", sem condições de pagar os compromissos assumidos. Até os cortadores de cana, que dependem do pagamento semanal, não receberam nenhum tostão. A situação é de desespero para os agricultores que enfrentam mais um ano de seca.
Os moradores do sítio desconhecem a origem do fogo que ocorreu, na semana passada. Os proprietários rurais só se deram conta do tamanho dos prejuízos ontem. Eles imaginavam que, mesmo queimada, a cana seria aproveitada pelos engenhos. Depois de percorrer todos os engenhos que estão moendo na região, o agricultor Francisco Gonçalves Barros, conhecido como "Tico" Barros, voltou para casa desiludido. "Eles não querem a cana queimada nem de graça". Foi esta a resposta trazida por "Tico" para seus companheiros, vítimas do incêndio. Ele diz que perdeu a esperança e a paciência. Entrou em depressão e faz três noites que não dorme, pensando numa forma de pagar as dívidas. Até mesmo o plantio de banana, que era utilizado no consumo doméstico e vendido no mercado regional, foi consumido pelo fogo.
O pequeno produtor José Alves Barros, conhecido por "Dedé", que já estava em situação crítica por causa da seca, conta que "aqui, nós perdemos tudo, a única fonte de renda seria a venda da cana. Com este incêndio, a gente não tem como pagar as contas". Ele diz a maior vergonha que sente é não poder honrar os seus compromissos, principalmente junto àqueles "que nos ajudam na luta diária".
O lamento de Dedé é acompanhado pelo cortador de cana Damião da Silva que afirma: "o fogo consumiu o nosso suor. Eu não recebi o dinheiro do meu trabalho. A gente não tem o que fazer porque o prejuízo dos proprietários são maiores. A dor dos outros ameniza a da gente", diz resignado.
Um hectare de cana produz cerca de 90 toneladas, cerca de 30 toneladas por tarefa. A tonelada estava sendo vendida a R$ 40,00. A outra fonte de renda era transformar a cana em pasto para o gado, a fim de suprir a falta de capim, por conta da seca. O agropecuarista Maximiano Ximenes diz que estava comprando o hectare do insumo para pasto a R$ 1.200,00. Agora, com a matéria-prima queimada, ele não quer nem de graça.
Os produtores dizem não ter condições de aproveitar nem a "soca" da cana. "Vamos ter que plantar tudo novamente, sem nenhum tostão no bolso", lamenta. Normalmente, depois de cortada, a soca, ou caule, é mantida no solo, sem necessidade do replantio. Com o acúmulo de prejuízos, maioria está desiludida com a agricultura. "Quando não é a seca, é o fogo. Parece que atrás do pobre corre um bicho", diz o líder sindical Expedito Guedes, presidente do Sindicato dos Produtores Orgânicos do Cariri.
Focos de calor
O número de focos de calor no Brasil cresce de forma assustadora neste mês de agosto. Desde o início do ano, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já registrou um total de 33.181 focos. Desses, 9.168 (28%) ocorreram em Mato Grosso. Em seguida, aparecem Tocantins (16%), Pará (13%), Bahia (7%) e Goiás (6%). O período de seca e a expansão rural são os principais responsáveis pelo aumento no número de focos de incêndio registrados neste mês em todo País.
De acordo com o INPE, 2010 é um ano muito mais seco do que 2009, com temperaturas mais altas, umidade relativa do ar mais baixa e sem chuvas, o que facilita o uso e a propagação do fogo. Além da questão climática, o aumento expressivo dos focos de queimadas se deve ao crescimento do setor agropecuário, que usa fogo para abrir pastagem e limpar a terra para o cultivo. "Um simples fogo de monturo, pode gerar um grande incêndio", adverte o chefe do escritório do Instituto Chico Mendes, Willian Brito, acrescentando que, no momento, a umidade relativa do ar gira em torno de 23%.
No Ceará, foram registrados 248 focos de calor de janeiro até 22 de agosto. Nestes últimos cinco dias, de sexta-feira até ontem foram identificados 35 focos de calor. Ao fornecer a informação, o coordenador estadual do Prevfogo, Kurtis François Teixeira, esclarece que o satélite só consegue detectar os focos de calor. Os incêndios que ocorrem normalmente no mato rasteiro dentro das florestas não são identificados pelo sensor do satélite. O acompanhamento desses incêndios, segundo Kurtis, deve ser feito pelos órgãos ambientais de cada região.
O coordenador estadual do Prevfogo orienta que, em caso de incêndios ou focos de calor, os proprietários rurais devem registrar um Boletim de Ocorrência no Corpo de Bombeiros, solicitar a perícia junto aos órgãos ambientais, ou telefonar para o 0800-618080 e fornecer informações sobre a propriedade atingida.
Kurtis anunciou que, a partir de setembro, serão deslocados 60 homens do Prevfogo para pontos estratégicos do Interior. 15 deles ficarão baseados em Crato. O Prevfogo é ligado ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Antônio Vicelmo
Repórter do Jornal Diário do Nordeste
Colaborador do Blog do Crato
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