Thursday, January 31, 2013

Pelo bem dos "gênios" de hoje esqueça os de ontem. Por: Antônio Sávio.


"A tradição pode ser definida como uma extensão dos direitos civis. Tradição significa dar votos à mais obscura de todas as classes, os nossos antepassados. É a democracia dos mortos. A tradição se recusa a submeter-se à pequena e arrogante oligarquia dos que simplesmente por acaso estão andando por aí."
Ortodoxia / Gilbert K. Chesterton 

Para quem chegou nesse mundo recentemente há de pensar que vivemos em um tempo horrivelmente maravilhoso. A violência nunca foi tão alarmante, mas ao mesmo tempo nunca fomos tão rodeados de anjos (ONGs, universidades, projetos em defesa da vida, do aborto, dos afro-descendentes, dos gays, ou melhor, dos homoafetivos, dos famintos, etc). A questão para consertar o mundo é tão somente identificar algo de errado e arrumá-lo através de um projeto cheio de boas intenções. 

 Essa mistura de humanismo (que é sincero muitas vezes) e um raciocínio lógico-primitivo tem sido a base estrutural para as mais diversas mazelas que engessam o pensamento e as ações políticas no Brasil. Raciocinando através de chavões e palavras-chave, de teorias misosóficas das mais gritantes, “professores”, “artistas”, “filósofos”, enfim, a nova intelligentsia tupiniquim que, após ocupar as cátedras universitárias, a imprensa, as editoras, as escolas, os centros culturais desde os anos 60 reagindo contra o regime militar, formaram a face do Brasil de hoje. A revolução cultural, expressão do pensador italiano Antonio Gramsci, foi e é a estratégia em voga, onde busca não mais vencer uma possível oposição política através de pauladas, mas pela elegância de meter-lhe em um tanque de vidro, amarrá-lo e assistir seu afogamento. Gritos sufocados dentro d’água, é, para quem assiste apenas da superfície, apenas bolhas circulares concêntricas. Enfim, um desenho geométrico perfeito.  Essa é a nova democracia.

Para fazer o efeito desejado, a chamada contracultura, não queria apenas dar voz a quem não tinha como comumente é falado até hoje a quem se refere aos movimentos revolucionários de anos atrás, mas, sobretudo, calar que fosse capaz de se opor a seu raciocínio taxando-o de reacionário, facista, nazista, etc. Aos poucos, nomes como Gustavo Corção, Nelson Rodrigues, Vilém Fusser, Farias Brito, Otto Maria Carpeaux, Meira Penna, Bruno Tolentino, ou, os chamados reacionários, por um toque de mágica, para o bem da pluralidade de um pensamento só, foram sumindo. As idéias destes e de tantos outros foram proibidas de circular ao mesmo tempo em que passeatas e protestos rogavam por democracia. 

Porém, para quem percebe a dissonância dos discursos, para quem, como diria Eric Voegelin não tem o raciocínio de um fundamentalista para acreditar em palavras e ignorar a realidade, ou pior, não ser capaz de traduzir a realidade em expressões próximas a elas, verá que há muita coisa errada. Ao colocar, por exemplo, Paulo Freire como patrono da educação do país (que teve o privilégio de não ajudar em nada em num país a fora onde sua pedago-ideologia foi utilizada), pelos seus supostos méritos, e, após isso, não vermos uma só voz levantar-se contra, vemos não só a existência de uma pseudo-democracia, mas também um atestado de “Supremus et aeternus stultitia”. Aqui, a ideia de educação como foi desenvolvida pela tradição de pensadores de mais de dois mil anos, onde seu intuito principal era, na expressão de Aristóteles, a formação do “spoudaios”, o desenvolvimento pleno das faculdades mentais e espirituais não fazem nem sombra a tal “Pedagogia do Oprimido”.  Os esforços toda a antiguidade clássica que nos deixaram o legado da educação que busca o pleno desenvolvimento humano, fazendo-o sujeito de sua própria consciência e de sua realidade (“Eu sou eu e minhas circunstâncias”, como diria Ortega y Gasset), os conceitos de “psique”, “pneuma”, “logos”, “daimon”, que eram, antes que uma expressão verbal, uma condição de existência para quem quisesse dizer-se educado, foi, prontamente esquecido sob o reles pretexto de que a nossa realidade é outra. Ora, que a realidade seja outra não há dúvida, mas que a validade dos conceitos acima sejam universais e perenes, portanto, sobrepõe as questões contextuais e seu imediatismo histórico em busca de uma causa maior também é indiscutível. Não se trata de alienar-se em relação ao seu contexto social, mas, desenvolver uma educação onde o senso de necessidade imediata não seja uma agente de alienação, nos fazendo perder o que é a educação, a política, a arte em si, e não submetê-las, distorcendo-as ao sabor da doutrina, de modo a equacionar o efeito desejado (que por incrível que pareça a mesma doutrina nunca sai de moda). 
A pergunta que se faz é: Quando nomes fundamentais para a formação humana como Sócrates, Platão, Aristóteles, Fídias, Ésquilo, Sófocles, Eurípides, Homero, Hesíodo, São Tomás de Aquino, Santo Augustinho, Voegelin, Strauss, Mário Ferreira dos Santos, e tantos outros perderão suas vozes aos “papas” do momento? Não seria minimamente democrático fazer circular as mais diversas teorias fazendo com que, por meio de um debate justo e dialético tivéssemos um resultado mais benéfico? Ao ignorar nomes tão básicos que lembro a primeira vista e tantos outros fundamentais, não critico aqui a capacidade do estudante brasileiro em si, que, antes de tudo é vítima da manipulação ideológica. Para quem duvida disso, a ONG “Escola Sem Partido” vem fazendo denúncias sobre o tema e incomodado muito doutrinador travestido de educador. Gente que a perfídia em si, ululante, seria o atestado de incapacidade crônica para qualquer trabalho com educação. 

A denúncia que tem um efeito jornalístico, já havia sido feita em escala macro-histórica, ao demonstrar o declínio da civilização ocidental. Ao passo que o progresso tecnológico entorpecia a maioria da população, o nível de inconsciência que antes estava reservado a populações sem educação, foi paulatinamente atingindo as pessoas responsáveis pela formação do pensamento crítico nacional. O alienado não era mais o pedreiro analfabeto, mas o professor, o diretor de escola e universitário, o reitor, o jornalista, o editor, escritor, artista plástico etc. É a metástase da inconsciência. 

Pode alguém perguntar como “saberes” que se dizem eternos possam assim ser esquecidos ao longo do tempo. A questão é que, para afinar-se minimamente com a mera compreensão histórica do processo é necessário um esforço notável. Vislumbrar esse processo em um país onde não há historiadores suficientes para denunciá-lo, ou editoras que se prontifiquem a publicar tal análise não é fácil, porém, não convém confundir este problema com uma inexistência do mesmo. Ele existe, embora nem todos possam vê-lo. Muitas das teorias filosóficas, políticas ou artísticas em voga não estão aí por terem demonstrado sua eficiência em relação a outras, em um debate ou processo de construção histórico-dialético-democráico, como muitos o queiram, mas apenas pelo esquecimento das primeiras e pelo senso de oportunismo que surgiram as outras. É nessa clave que se enxerga a educação, a política, as artes e tudo que for no Brasil.

Como diria o nobre Nelson Rodrigues: "No Brasil, só se é intelectual, artista, cineasta, arquiteto, ciclista ou mata-mosquito com a aquiescência, com o aval das esquerdas."

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