Tuesday, November 1, 2011

O grupo baiano de teatro - Por: Emerson Monteiro


Ano de 1968, em Crato. Prefeito, Humberto Macário de Brito. Secretário de Cultura, José Hélder França. Da Bahia fora convidado o ator e diretor de teatro José Luiz Penna para organizar na cidade um grupo de artes cênicas, sob a égide do município, trazendo consigo Túlio Penna, seu irmão, Paulo Costa, Marcos Garcia, Cláudio Dortas e Rosa Costa, irmã de Paulo, companheira de José Luiz, que se instalaram no distrito do Lameiro, numa chácara denominada Tesouro Encantado, quase na entrada da vila.

O mundo atravessava período de amplas transformações. O Vietnam vivia seu holocausto. As ruas de Paris ardiam sob as barricadas de maio. O movimento hippie alcançava seu nível extremo, culminando a seguir com o festival de Woodstock. As artes e as drogas se confundiam na Contracultura, iniciando-se o Ocidente nas largas modificações de pensamento provocadas pelas influências orientais, por intermédio da juventude insatisfeita com os padrões religiosos da cultura clássica.

O Brasil, por sua vez, se rendia ao peso do militarismo no poder, condicionado que se vira ao golpe de 1964.

O grupo baiano de teatro trazia todas essas informações bem acentuadas em seu conteúdo avançado. O líder Zé Luiz, conhecedor de todas as contradições do momento político mundial e do ocorria lá fora em termos de forma e pensamento, trabalhou intenso, assistido por alguns jovens cratenses, José Roberto França, João Lima Santos, Graça Brito, Huberto Tavares, dentre outros, e montou a primeira peça, O vaso suspirado. Os ensaios se realizavam a princípio no salão paroquial de São Vicente, na Rua Senador Pompeu. Enquanto isso, a Secretaria de Cultura construía um local para o projeto, na Praça da Sé, prédio onde depois funcionou a Biblioteca Municipal e hoje existem algumas lojas.

Depois foram encenadas as peças A consulta e Picnic no front, esta do autor espanhol Fernando Arrabal, dos mais respeitados na época, pela coragem de afrontar as elites poderosas, em preparação ao principal espetáculo que abriria a caráter o Teatro do Município, o que veio de ocorrer com um texto de Oswald de Andrade, O rei da vela.

Numa noite das mais esperadas, a força desmistificadora da montagem atingiu em cheio o estabelecido cratense, impacto que sacolejou as bases da municipalidade, numa festa em que compareceram as principais lideranças locais, desde o bispo da diocese ao prefeito, chocados que foram pela surpreendente atualidade vanguardista da encenação. Resultado: o dia seguinte fez o Crato recuar ao seu nível artístico do passado, devolvendo a Salvador o grupo teatral que ainda persiste na memória dos que conheceram de perto as potencialidades de inovação em pleno espaço naquele sertão tradicionalista, para quem as coisas jamais seriam iguais ao que haviam sido antes.

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