Thursday, July 29, 2010

O (quase) superado dilema “esquerda versus direita” – por Armando Lopes Rafael


Semana passada foi publicada neste blog (na coluna “Notícias do Cariri”) uma declaração do cineasta Guel Arraes, na qual ele questionava: “Existe ainda ideologia? ainda existe esquerda e direita, ainda existe a fronteira da justiça social ou não?” (...) “Sinto o conflito de ter uma postura como artista, de ter uma posição crítica em relação à esquerda sem renegar tudo o que vivi”.
Sincero, pertinente e inteligente o questionamento de Guel Arraes. Sobretudo porque ele e sua família sofreram muitas perseguições e as amarguras de um longo exílio, durante o período ditatorial (mais um, diga-se de passagem) que vigorou na República Brasileira entre 1964 e 1984.
Aquela declaração me fez remontar a minha juventude, quando era moda as pessoas se rotularem “de esquerda”. Algumas por convicção. A maioria, no entanto, simplesmente por oportunismo, por modismo ou porque integravam a grande corrente Maria vai com as outras. Dizem que o homem tem mais coragem para enfrentar a morte numa guerra, do que para defender suas idéias num ambiente onde ele é minoria. Pura verdade!
O tempo, porém, é inexorável. Os modismos passam. Somente a realidade prevalece. Os tempos mudam e os símbolos políticos também. Na década 70 – e até meados da década 80 – ninguém tinha coragem de dizer que se identificava com as idéias da direita. Naquela época, o patrulhamento ideológico na mídia e nas universidades públicas era capaz de destruir qualquer pessoa que ousasse enfrentar os dogmas da velha esquerdona. Quem não rezasse pela utopia socialista era tachado impiedosamente de reacionário, fascista, lacaio do capitalismo...
Nos dias atuais a velha esquerdona dividiu-se em dois grupos. O primeiro é formado pelos que ainda mantêm suas convicções político-sociais, mas evoluiu na linha da nova esquerda européia, esta reciclada depois da falência do socialismo real. Esse grupo defende os direitos humanos, onde se inclui a pluralidade religiosa e ideológica.
O outro grupo é formado por pessoas que condenam com veemência a ditadura militar brasileira, mas silenciam sobre longevas ditaduras, comandadas por clãs familiares, onde falta liberdade e sobra miséria. Por ex: Cuba e Coréia do Norte. Nesse último grupo as pessoas ainda acreditam (ou fingem acreditar) na implantação do caduco socialismo varrido do mapa em 1989. Torcem, ainda, pelo fim da globalização e dizem (é verdade, pode crer) que ainda existem idealismo e pureza no Partido dos Trabalhadores–PT.
São verdadeiros trogloditas.
E bota troglodita nisso...

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