(Da Agência O Globo)
Decepção. Essa é a palavra mais usada pelos dissidentes cubanos para avaliar a visita da presidente Dilma Rousseff a Havana. Para os opositores ao regime dos irmãos Castro, a presidente perdeu uma oportunidade histórica de defender os direitos humanos na ilha. E os comentários de Dilma a favor de um debate amplo sobre o tema que inclua a situação dos detentos de Guantánamo não foram suficientes para acalmar os ânimos.
— Isso é hipócrita. É possível ser contra o embargo americano, contra a situação dos presos em Guantánamo e contra a repressão em Cuba. O comentário não está à altura da história política de Dilma. Não está à altura do povo brasileiro e da importância do país na política mundial. Dilma é uma lutadora em prol da liberdade, mas tratar o tema dessa maneira não me parece correto — disse Oscar Chepe, economista e dissidente.
A expectativa gerada pelo visita de Dilma, que também foi vítima dos abusos de uma ditadura, aumentou a irritação com as declarações oficiais da presidente, embora o governo já houvesse sinalizado que a presidente não comentaria o assunto em declarações públicas, respeitando a tradição de não interferência em assuntos internos de outros países. Ainda assim, os opositores esperavam, na prática, algum tipo de retratação depois que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou, durante visita ao país em 2010, a situação dos prisioneiros políticos com a de detentos comuns.
— O tema de direitos humanos é universal, mas deve ser abordado sem exclusões. A presidente Dilma Rousseff preferiu olhar para outro lado, no lugar de observar a triste situação do povo cubano. Queremos apenas ter os mesmos direitos que os brasileiros têm — disse Elizardo Sánchez, da Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, que mesmo assim avalia que a discussão sobre a visita chamou a atenção na região para as violações de direitos humanos.
— O tema de direitos humanos é universal, mas deve ser abordado sem exclusões. A presidente Dilma Rousseff preferiu olhar para outro lado, no lugar de observar a triste situação do povo cubano. Queremos apenas ter os mesmos direitos que os brasileiros têm — disse Elizardo Sánchez, da Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, que mesmo assim avalia que a discussão sobre a visita chamou a atenção na região para as violações de direitos humanos.
Em seu blog, a jornalista cubana Yoani Sánchez, que aguarda a autorização do governo cubano para vir ao Brasil depois de conquistar o visto, reconhece que a visita de Dilma, apesar de minuciosamente preparada, contou com uma infeliz coincidência: a morte do dissidente político Wilman Villar Mendoza após cerca de 50 dias de greve de fome. Ela avalia que é justamente neste momento que o “raulismo” requer a legitimação de outros presidentes da região, o que se traduz em muitas fotos com sorrisos e compromissos de amizade eterna na agenda de viagem. “Esperamos que ela não deixe de aproveitar a ocasião e seja consistente com o falatório democrático, no lugar de optar pelo silêncio cúmplice diante de uma ditadura”.
Para Berta Soler, porta-voz das Damas de Branco (grupo opositor composto de familiares e esposas de dissidentes presos), antes de citar Guantánamo, a presidente deveria ter incluído uma visita a uma prisão cubana. Berta lamentou o fato de Dilma não ter se reunido com membros da oposição.
— Ela agiu como Lula e não se interessou pelo povo cubano. Só nos restou o papel de enfrentar a situação sozinhos.
Para o dissidente Rolando Lobaina, a comparação com Guantánamo não é integralmente válida porque já existem mecanismos que condenam a atuação dos EUA na base.
— A situação de Guantánamo se tornou alvo de crítica e de comentários no mundo todo com a ação de grupos como o Human Rights Watch. Em Cuba, só temos relatos do que se passa no cárcere porque ninguém consegue entrar.
— A situação de Guantánamo se tornou alvo de crítica e de comentários no mundo todo com a ação de grupos como o Human Rights Watch. Em Cuba, só temos relatos do que se passa no cárcere porque ninguém consegue entrar.
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