Saturday, December 1, 2012

Pesquisadores estudam abelha nativa do Cariri


Pesquisadores e criadores despertam interesse pelo espécime identificado com a região do Cariri

Crato. Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) esteve na região do Cariri para analisar as abelhas da espécie Sacpototrigona-SP., mais conhecida como Canudo. O inseto, que é nativo da encosta da Serra do Araripe, produz pólen, mel e ajuda na fecundação dos cultivos regionais e na preservação das plantas existentes no território onde elas vivem. O intuito dos estudiosos foi colher amostras e conhecer a produção dos criadores. Eles já desenvolvem outras pesquisas sobre o comportamento, fisiologia, ecologia e genética de abelhas de vários tipos. Os estudiosos pretendem auxiliar no melhoramento do manejo e na conservação da espécie, que pode ser ameaçada pelos constantes desmatamentos, incêndios e até pelo uso indiscriminado de agrotóxicos FOTO: YACANÃ NEPOMUCENA

Temperamento

No momento, estão tentando descobrir mais detalhes sobre o tipo da classe local. Cada um tem bolsa de incentivo de fundações de apoio à pesquisa e instituições acadêmicas renomadas como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A Canudo chama a atenção devido ao seu temperamento. Segundo os criadores, elas são extremamente dóceis. Os estudiosos pretendem auxiliar no melhoramento do manejo e na conservação da espécie que pode ser ameaçada pelos constantes desmatamentos, incêndios e até pelo uso indiscriminado de agrotóxicos. De acordo com os pesquisadores, essas ações estão contribuindo para a matança das abelhas e gerando a despolinização das plantas. Eles afirmam que é importante mantê-las na região nativa. No Crato, apenas no bairro Grangeiro, área que se assemelha à zona rural, já há três criadores deste inseto. Porém, na cidade, existem vários outros que ainda estão sendo catalogados. Estima-se que o número já passa de 15.

Produção

No Brasil, existem mais de 300 espécies de abelhas nativas. Se for comparada com as Italianas, que são exóticas, a Canudo produz pouco mel, apesar de seu potencial de produção ser considerado alto. O alimento ainda não é exportado como o fabricado pelas demais abelhas. Elas se alimentam da própria produção e comem o pólen e néctar das flores, que são suas principais fontes de energia. Em toda a encosta do Araripe, os pesquisadores observaram que a diversidade da flora contribui para a conservação da espécie. Eles afirmam que, nas colmeias, cada pólen tem uma cor peculiar que depende do tipo de planta que a abelha visitou. O produto também pode ter sabor e cor variados.

O período de maior produção das abelhas Canudo acontece durante a quadra invernosa. Entretanto, mesmo em anos de seca, como está acontecendo em 2012, elas continuam fabricando o mel. Elas têm aparência de cor preta, não possuem ferrão e, em termos científicos, são classificadas como sociais, já que, no ano inteiro, convivem em grupos permanentes, onde uma líder mantém a comunicação com as demais, que durante o trabalho auxiliam a rainha na manutenção da colônia.

Produção

A produção anual dessa espécie, por caixa racional, chega a três litros de mel. No mercado, o preço do produto poder ser de até R$ 100, por cada mil mililitros. As grandes vendas ainda não são frequentes. O apicultor Manoel Ivan Pedroza pretende, em parceria com outros criadores, iniciar comercialização em larga escala e formar uma associação. No ano passado, sozinho, ele engarrafou 200 potes de mel, cada um contendo 100 mililitros. O produto foi doado e vendido. Para ampliar a criação, Pedroza conta que está investindo na multiplicação das caixas racionais. Atualmente, ele mantém 50 colônias e já planeja obter lucros com a iniciativa.

No Ceará, a apicultura tem como característica marcante a produção de mel de abelhas exóticas. Estima-se que o cultivo está presente em 150 municípios. A produção tem referência na exportação, colocando o Estado entre os cinco maiores exportadores do Brasil. O Cariri é uma das regiões com maior número de produtores. O biólogo holandês Dirk Koedan é um dos membros do grupo de pesquisadores que está analisando as colônias das Canudos no Cariri. Ele é pós-doutor e especialista em etologia, com ênfase em insetos sociais. Koedan estuda abelhas sem ferrão há mais de 20 anos e afirma que a geografia, o clima e a vegetação úmida da Chapada do Araripe ajudam a formar ilhas de abelhas, onde elas se adaptaram e estão se mantendo por muitos anos.

"Planejamos essa viagem exatamente para analisar melhor esse tipo de abelha, observar como elas são diferentes das existentes em outras regiões e como se adaptam a diversos ambientes. Já vimos que a Chapada do Araripe é muito diferente da Caatinga", revela. Entre os benefícios dos estudos sobre as abelhas está a previsão do que poderá acontecer com a espécie nos próximos 50 anos. As hipóteses iniciais indicam que, com o aquecimento global, elas poderão ser amplamente afetadas. Contudo, produtores e pesquisadores estão esperançosos. A meta é dar previsões que possam contribuir para a elaboração de alternativas que evitem o problema.

Mais informações:

Criação de abelhas Canudo
Rua George Lucetti, 301
Bairro Grangeiro
Crato - Cariri
Telefone: (88) 3521.6894

YACANÃ NEPOMUCENA
Repórter do Jornal Diário do Nordeste

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