-- Transcrito do jornal "Folha de S.Paulo", 26-12-2012 --
ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO
Dados compilados pela consultoria Consensus Forecast mostram que as projeções médias para o crescimento do PIB brasileiro no longo prazo recuaram de 4,5% para 3,9%, entre abril de 2010 e outubro deste ano. A maior parte dos países teve revisões para baixo. Houve reduções grandes para China, zona do euro e Japão. Mas, de forma geral, as quedas nas revisões foram menos significativas que a brasileira. Há também casos, como México e Alemanha, para os quais o cenário econômico melhorou um pouco.
Como resultado dessas e de outras tendências, o Brasil deve recuar, entre 2012 e 2022, do 38º para o 39º lugar (entre 52 países) no ranking de renda per capita elaborado pela Consensus Forecast (que coleta projeções de bancos e consultorias estrangeiros e nacionais). Além da crise externa, "no Brasil há uma questão mais séria que é a incerteza regulatória. Isso tem afetado as decisões de investimento", afirma o economista Marcelo Moura, do Insper.
QUEDA EM 2012
A contração dos investimentos é a principal causa do desempenho fraco da economia brasileira neste ano. Economistas estimam que o PIB crescerá entre 0,8% e 1,2% em 2012 como um todo. Como essa expansão da economia teve ritmo próximo ao do crescimento da população, a renda per capita ficará estagnada em reais. Mas recuará em dólares, já que a moeda brasileira se desvalorizou nesse período.
Segundo cálculos feitos pela consultoria EIU (Economist Intelligence Unit) a pedido da Folha, o PIB per capita em dólares deverá sofrer uma contração de cerca de 9% este ano, para US$ 11.670. Será a queda mais forte desde 2002, quando houve recuo de 9,6%. Em 2009, o PIB per capita em dólares também caiu (2,9%) com uma recessão que, no entanto, foi parcialmente compensada por uma valorização do real. A estimativa feita pela EIU para 2012 considera crescimento de 1% da economia e depreciação cambial média de cerca de 14% da moeda. Segundo Robert Wood, analista da EIU, a queda do poder aquisitivo em dólares tem consequências de curto prazo relacionadas à capacidade de comprar bens importados, que ficam mais caros, e de viajar para o exterior.
No caso das empresas, o custo mais alto de importar máquinas e equipamentos é um dos fatores que causa queda dos investimentos. Mas, segundo Wood e outros economistas, o movimento do PIB per capita em apenas um ano pode não revelar uma fotografia adequada do avanço da riqueza média da população. "Um histórico longo fornece uma ideia melhor do progresso do país", diz Wood. Moura, do Insper, ressalta que a renda per capita do Brasil cresceu a uma média baixa, de 2,4% ao ano, entre 1964 e 2012. Segundo cálculos do economista, essa taxa saltou para 3,4% entre 2006 e 2010 --período de expansão mais forte da economia. "O problema é que esse ritmo mais forte não se manteve e há dúvidas de que o país possa retomá-lo de forma sustentável", diz Moura.
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