Monday, May 3, 2010

Homenagem a Ricardo Oliveira da Silva - Por Dra Linda Lemos.



Conheci Ricardo Oliveira da Silva no dia do seu aniversário de 21 anos, numa terça feira de carnaval, do ano de 2010. Em sua casa, no município de Várzea Alegre, fui recebida pelo pai, Joaquim Oliveira da Silva, a mãe, Francisca Antônia da Conceição, e o irmão Romildo, que é também campeão de olimpíada e de solidariedade. Fui muito bem acolhida pela família, que teve vida nem sempre fácil, sobrevivendo, durante décadas, da plantação de arroz, feijão e milho.

É oportuno registrar o destaque pela imprensa nacional do varzealegrense Ricardo Oliveira da Silva, condecorado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a quinta medalha de ouro das Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas - OBMEP, promovida por meio do Ministério da Educação, Ministério da Ciência e Tecnologia e do Instituto de Matemática Pura e Aplicada em disputa de 17,5 milhões de estudantes.

Devido sua condição física (vítima de amiotrofia espinhal), Ricardo sempre teve dificuldade de acesso à escola. Vivendo no Sítio Vacaria, distrito de Ibicatu, para chegar aos bancos escolares tinha que enfrentar “estrada de barro e pedra, repleta de ladeiras”, levado pelo pai, agricultor, num carrinho de mão, por cerca de 1 km. "Quando chove, fica impossível andar por ali", diz o pai. Alfabetizado em casa, pela mãe, que cursou até a sexta série, e ajudado pelo irmão, que trazia da escola os livros que serviam a ambos, Ricardo ia sedimentando sua vida acadêmica. Somente passou a pensar em freqüentar a escola formal em 2006, após concessão da primeira medalha de ouro na olimpíada nacional de matemática. Na Escola Municipal Joaquim Alves de Oliveira, localizada no Sítio onde morava, mas distante de sua casa, Ricardo deveria cursar a 6a série.

Após o prêmio, a renda familiar também melhorou, pois Ricardo passou a receber R$ 100,00 da bolsa de iniciação científica, pela conquista das olimpíadas, somados aos R$ 76,00 do Programa Bolsa Família. A medalha de ouro lhe garantiu ainda aulas particulares com o professor de matemática Valberto Ramos Feitosa, que declara: "Ele consegue, com livros simples, criar teorias matemáticas” (Jornal O Povo, 2009).

Ricardo passou a morar na sede do município, com toda a família, quando tinha 19 anos e se preparava para cursar a 7ª série na Escola de Ensino Fundamental Joaquim de Figueiredo Correia, que fica em frente a sua casa. Atualmente, com 21 anos, tem cadeira de rodas motorizada, I-phone, computador, internet e o direito de escolher se quer ir morar perto da Escola de Ensino Fundamental e Médio Prof.ª Maria Afonsina Diniz Macedo, que freqüentará em 2010, ou permanecer no bairro onde reside, apanhando transporte, fornecido pela Prefeitura Municipal, para ir diariamente à escola.

O assunto em questão, certamente, merece uma reflexão, no que diz respeito à educação para todos, como direito garantido. Principalmente, uma reflexão sobre um dos maiores desafios da educação inclusiva - O Combate ao ciclo de invisibilidade - o qual obedece à seguinte lógica: 1º. Pessoas com deficiências não conseguem sair de casa e, portanto, não são vistas pela comunidade; 2º. Por não serem vistas pela comunidade, deixam de ser reconhecidas como parte dela; 3º. Por não serem reconhecidas como parte dela, garantir o acesso a bens, direitos e serviços não é considerado um problema para a comunidade enfrentar e resolver; 4º. Sem ter acesso a bens e serviços, não há como serem incluídas na sociedade; 5º. Uma vez que não são incluídas na sociedade, continuam invisíveis, alvo de constante discrição ou tendo acesso, passivamente, a programas de governo nem sempre inclusivos. O Brasil resgatou um gênio a tempo...(?) E os não gênios ... (?)

Experiência e estudos mostram que a alfabetização pode ter um papel essencial na erradicação da pobreza, no aumento de possibilidades de emprego, na promoção da igualdade entre os sexos, na melhora da saúde familiar, na proteção do ambiente e na promoção da participação democrática. Espero o dia em que, a minha homenagem a Ricardo Oliveira possa tornar-se uma homenagem e respeito aos direitos humanos.

Dra Linda Lemos.

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