Acima: Professor Cezar Bandeira de Melo
Hoje eu gostaria de fazer uma pequena homenagem a um homem a quem eu e a cidade do Crato devemos muito. Quem teve a felicidade de estudar no Colégio Diocesano do Crato nos anos 70 e 80, certamente que deve ter sido aluno do emérito professor Cezar Bandeira de Melo.
Um dos maiores "gênios" da nossa geração no ensino da Física, Cezar poderia ter sido um daqueles cientistas renomados de Oxford, Cambridge ou Harvard, pois a sua fenomenal inteligência o permitiria; Contudo, resolveu para nossa felicidade, permanecer no Cariri, tornando-se um professor e sendo um homem que cultua a simplicidade em todas as coisas, e diga-se de passagem, é também artista da música: Toca flauta transversal divinamente bem. Considero-o uma espécie de tutor, de mestre, que me ensinou os primeiros grandes passos da vida. Foi ele o responsável pelo despertar em mim das grandes paixões pela Física, pela Química, pela Computação, pela Astronomia e por inúmeras outras ciências. Foi também, ao lado de Jairo Starkey, o meu primeiro professor de inglês. Quando ainda adolescente, Cezar me recebia em sua casa como um filho, e em cada contato e através das suas perguntas filosóficas, aprendia-se mais sobre os mistérios do universo. É daqueles que possuem o raro toque de "Midas", de encutir na cabeça dos seus pupilos, a sagrada curiosidade acerca do cosmos. Foi através dele que tive acesso ao primeiro computador pessoal, um TK-82C, e lembro-me até que esse pequeno equipamento já possuía um programa de xadrez, jogo que o Cezar domina tão bem, que no Cariri não há par; Entristece-se por não encontrar jogador de Xadrez à sua altura, a não ser em grandes programas de computador.
Pelos idos de 1980, Cezar era colecionador, e nos seus alfarrábios, descobri um jogo de lentes de vidro, que através das quais, construí o meu primeiro telescópio refrator de 76cm, havendo sido encomendada a lente objetiva numa ótica da cidade. Com este equipamento, consegui refazer as famosas observações de Galileu, que viu vários satélites ao redor de Júpiter e Saturno. Por aquela época, eu passava madrugadas inteiras em observações com este telescópio e fazendo anotações.
Dentre os muitos hobbys, o Professor Cezar possuía um em especial: Era ouvinte assíduo da BBC WORLD SERVICE ( A famosa BBC de Londres ). Passávamos horas e horas juntos ouvindo a BBC e a Voz da América na sua residência, através de um excelente Rádio Transglobe que ele possuía. Ele, entendia tudo; Eu, quase nada, mas por seu intermédio, fui gravando os programas da BBC e outras estações de ondas curtas, e traduzia trecho por trecho. Foi assim que estudei inglês e hoje, graças muito a ele, ouço essa língua como se estivesse ouvindo-a em português, sendo que diariamente, minha TV é ligada na CNN; Tudo começou ali com o Cezar.
Ele também foi um dos grandes inspiradores para que eu ouvisse e apreciasse mais o JAZZ e a Música Clássica. Possuidor de um bom gosto extraordinário, Cezar Bandeira ouvia de tudo: De Bach a Beethoven, passando por Chopin, Bizet, Tchaikovsky, etc...possuía coleções inteiras de música clássica, e já o conheci tocando e estudando a famosa "Badinerie" de Johhann Sebastian Bach na flauta. Foi num pequeno órgão de brinquedo, movido a ar, que pratiquei vários tipos de acompanhamento e deduções sobre harmonia pianística que passaria a usar posteriormente em minha própria profissão de músico. Colecionador de livros incríveis, foi através dele também, profundamente racional, mas com grande curiosidade, que tive os primeiros contatos com os livros de Erick Von Daniken "Eram os Deuses Astronautas" e "De Volta às Estrelas". Também li o famoso "Como vejo o mundo" de Einstein, que ele tanto admirava e era livro de cabeceira.
Por incrível que pareça o Cezar e a D. Ana, sua gentil espôsa, e seus filhos, estão ligados a mim e à minha família de inúmeras formas. Tornou-se amigo do meu pai, Damião de Souza, que possuía um Mercadinho na época, e da minha mãe, que trabalhava em contabilidade. Foi na casa do Cezar, que conheci uma das minhas primeiras paixões de adolescente, uma moça muito formosa, de nome IVA, que infelizmente, o destino a levou para a sua terra natal em pouco tempo.
De modo mais geral, quem não se lembra do Colégio Diocesano na época áurea do "Cezinha" como professor e coordenador ? Eu sou da época do Cezar, do Prof. Bendimar, do Monsenhor Montenegro, das professoras Juracy e Jurandir ( História ), de Almerinda ( Geografia ), do Zé Pedro ( Matemática ), da Marília ( Inglês ), do Jairo Starkey ( Inglês ), do Onézimo, Prof. Miguel Costa Barros ( Português ), Prof. Jaime Milfont, que já chegava com o seu famoso questionário de História: "O que são salas hipostílicas ?"
Naquele tempo, o mundo era um lugar mais doce; Sentia o cheiro da vida no ar. Éramos imortais e pairávamos imersos em pensamentos que variavam desde a formação do universo, ao reino subatômico, passando ainda pelos grandes questionamentos da existência e de Deus. Era um tempo mágico de descobrimentos, em que assim como Colombo, eu vislumbrava das órbitas elipsoidais dos olhos, ( como diria o Augusto dos Anjos ), de um novo mundo, que se tornou para sempre, toda a base da pesquisa, da curiosidade, do conhecimento daquilo que hoje eu sou, tenho e sei. Devo muito disso ao grande professor Cezar Bandeira de Melo, que em momento hábil, soube me guiar para um caminho de progresso, que de outra forma, sem a ajuda da sua imensa luz interior, eu e muitos outros da nossa geração, ainda estaríamos tateando na escuridão da ignorância e da presunção do saber.
É por isso que hoje, ao reencontrá-lo na calçada da agência do Banco do Brasil em Crato, todo um passado de uma vida doce e bela me enterneceu e tocou fundo a alma, ao lembrar daquele tempo de descobertas, de vida feliz, em sua mais completa concepção, e gostaria de agradecer pelo muito que fez não só por mim, mas por toda esta imensa plêiade de alunos que juntos, desfrutaram do seu imenso saber e da sua presença, e passaram a compreender mais sobre o sentido da vida e da arte de viver, perscrutando o mundo através daquilo que mais enobrece o ser humano e que o Cezar possui de sobra: A Inteligência, o Conhecimento, o Caráter e um imenso Amor pela vida.
Obrigado, Cezar Bandeira de Melo, por você existir.
Salve, Mestre! Por compartilharmos desta curta dobra espaço-temporal e poder dizer que fomos e somos grandes amigos.
Um grande Abraço,
Que o Universo conspire em seu favor.
Dihelson Mendonça