Tuesday, May 18, 2010

As consequências do Incêndio no Instituto Butantan


Imagine um edifício afastado de residências e de área comercial. Dentro dele, salas repletas de prateleiras de metal e estantes de madeira. Sobre elas, milhares de animais imersos em vidros com álcool ou com formol. Qualquer faísca poderia causar um desastre. Esse era o cenário do prédio que abrigava as coleções de cobras, aranhas e escorpiões do Instituto Butantan, incendiado no sábado (15). Agora, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) e a Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social da capital paulista apuram as causas do fogo. Independente do resultado, pesquisadores afirmam que o que foi perdido jamais poderá ser recuperado. Era o maior acervo de cobras do mundo, cerca de 85 mil exemplares.

"O que desapareceu ali seria correspondente à queima de livros de várias bibliotecas grandes. Só que muito pior. Um livro poderia ser reimpresso, no Butantan cada indivíduo era único", lamenta Miguel Trefaut Rodrigues, pesquisador do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP). A coleção foi iniciada há 120 anos. Além das cobras, contava com cerca de 450 mil aranhas e escorpiões. "É provável que animais já extintos ou em via de extinção estivessem catalogados lá. Com certeza, havia animais muito raros no prédio", afirma Rui Seabra Ferreira Junior, pesquisador do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (CEVAP) da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Rodrigues, que começou a estagiar no Butantan em 1970, aos 16 anos, acompanhou o crescimento do acervo. "Conforme aumentavam as fazendas no Estado de São Paulo, mais pessoas eram picadas por cobras", contextualiza o pesquisador. Para cada cobra, aranha ou escorpião vivo levado ao Instituto, era entregue uma ou duas ampolas de soro antiofídico. "No começo do século 20, o interior não tinha a estrutura de saúde de hoje em dia", explica. Assim, existiam animais coletados há mais 100 anos no prédio. "Era um testemunho do Brasil que desapareceu, não conseguiremos trazer de volta aquela fauna de um século atrás", diz Rodrigues. Pesquisadores de outras partes do mundo também cediam exemplares para o Butantan. E, até hoje, animais recolhidos por bombeiros ou apreendidos pela Polícia Florestal e pelo Ibama eram levados para aquele setor.

Fonte: Yahoo Notícias

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